Olga

Olga
de Jayme Monjardim, Brasil, 2004
Palácio 1, sexta, 10/09 17:30
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Amigos,
É preciso confessar: eu chorei vendo Olga. Sim, não foram poucas as lágrimas que derramei durante a projeção do filme. Mas não foram lágrimas de pranto em relação ao destino sombrio da protagonista que se prenunciava. As lágrimas foram de lamento em relação ao que se tornou o nosso tão querido e capenga cinema brasileiro. Chorei porque (paradoxalmente) não há espaço para a emoção em Olga, e tudo exala uma assepsia deprimente. Chorei porque quando todos os recursos são disponíveis para um realizador, para o “grande projeto da Globo Filmes”, esse mesmo realizador declara que seu grande sonho é que Olga vire uma minissérie, um produto para Tv em vários episódios, porque assim sua audiência seria no mínimo dez vezes maior que a mais otimista das projeções de público para a obra nos cinemas. Chorei porque no “maior projeto do cinema brasileiro dos últimos tempos” não há espaço para o sonho nem para o desejo, porque não há espaço para o Brasil, não há espaço para o risco. Enclausurado em sua covardia, Olga é uma espécie de um muro das lamentações, de enterro de tudo o que sempre representou o cinema brasileiro, uma lição tétrica, cruel, violenta e desumana. Chorei porque pela primeira vez tive vergonha em sonhar que quero participar dessa história, desse cinema brasileiro. Chorei porque as pessoas ao meu lado também choravam, mas por outros motivos. Chorei porque me lembrei de que trabalhava diariamente em prol de uma coisa que eu já não sabia mais o que era. Chorei porque tenho um sonho que dificilmente poderá se realizar.

A sessão acabou, as luzes se acenderam, as pessoas se levantaram das poltronas, e eu continuei lá, estático, paralisado, sem saber como poderia reagir. O segurança me cutucou: era preciso que eu saísse para que começasse a próxima sessão. O show deve continuar.

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