poema

Descubro entre as traças um antigo painel
da cor de cristal
Amigo velho, antigo cúmplice
membro das aristocráticas vigílias
sobrevivente, um entre os muitos,
senão com grandes, dolorosas cicatrizes

e entre as bolhas de tétano e fuligem
eis que o encontro:
reverberante, grave, indissoluto

encontro-o da mesma forma que o deixei
amargo, roto, perdulário
embaixo da mesma quina envelhecida
com seu sórdido sorriso de marfim
e suas recordações de escritório

viajante nato
íntimo colar de falsas esmeraldas
ali ao acaso o encontrei após anos
e anos e mais anos e talvez alguns outros
meses e dias

Minhas mãos tremeram
meus pés soluçaram de ardor
meus cotovelos se entreolharam
agachados entre os cantos sombrios e escusos
as nuvens entreolhavam-se de longe
muito longe
abafadiças as fenestras seguraram a respiração
O úmido espaço se contorcia

E diante de meus próprios olhos ali estava ele
ali estava o painel antigo
da mesma forma como o deixara
entre as taças da cor de cristal
entre os pesadelos de mármore

Ali ele o estava
entre as bolhas de tétano e fuligem

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