A Alma do Osso

A Alma do Osso
De Cao Guimarães
É Tudo Verdade, Memorial Getúlio Vargas, dom 10 de abril meio-dia
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A Alma do Osso, do mineiro Cao Guimarães, é um belo filme. Radical, é incrível como ganhou o É Tudo Verdade. Esse festival é sério, é um dos poucos festivais no Brasil que são realmente sérios, que realmente buscam o bom e o novo. Esse ano, o premiado foi o Aboio, que só não ganhou a Mostra do Filme Livre porque dois dos seus três curadores são completamente imbecis. Cao não tem peixada, A Alma do Osso é um filme simples, sem grana. Palmas para o Festival, que permitiu que o filme pudesse ser visto.

Um trabalho muito íntimo. Bernardet escreveu um belo texto sobre o filme. Talvez o mérito nem seja do festival, mas do Bernardet de dar uma chance a este filme. Não tem entrevista, não tem blábláblá: o filme é um mergulho na vida, na rotina daquele forasteiro. Mas um retrato tão íntimo, tão humano, que nos assusta. E com uma simplicidade desconcertante. Quando o filme vai pras externas, seu sentimento de liberdade se multiplica: o super 8 e o som (belíssima trilha de O Grivo) fazem com que a natureza e o homem se tornem um,e o filme se torna bem experimental. É um filme sobre a liberdade e sobre a solidão. Mas sem presepada, sem lição de moral sem artifício de comoção. É cinema. Não gosto tanto da parte final em que o cara fala, gosto mais do início, que é muito rigoroso e íntimo. De qualquer forma, A Alma do Osso é um dos raros docs brasileiros que não querem respostas prontas, apenas um olhar para o humano e suas contradições, um olhar humano, uma proposta de um cinema do tempo que deixe a pessoa se expressar com seus próprios meios sem forçá-la a falar, sem constrangê-la. O “dar a voz” é muito mais orgânico, muito mais respeitoso com a natureza do ser humano. Que lição importante! Com isso, dado o tétrico nível do cinema nacional, o filme se faz um dos melhores da retomada pra cá. Para ser visto.

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