De Luto à Luta

De Luto à Luta
De Evaldo Mocarzel
CCBB qui 7 abr 21hs
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Terceiro longa do jornalista Mocarzel em três anos. Típico paulista (isto é, ranzinza e rancoroso), os filmes de Mocarzel, embora eu nunca goste, sempre tem um olhar de linguagem, uma polêmica, um desejo por um olhar renovado, com um frescor. Foi com esse olhar que eu fiquei no Centro da Cidade até 9 horas da noite pra ver o novo longa de Mocarzel, depois do Parteiras da Amazônia, que me causou calafrios. Porque por mais que eu não goste MESMO dos outros filmes do Mocarzel, ele é um cineasta que eu tenho um certo respeito, porque tem um olhar de cinema.

Então até mesmo por isso, este De Luto à Luta é uma decepção total. É um filme sobre pessoas com síndrome de Down, e esperava-se que Mocarzel fosse contra um paternalismo, contra uma visão de vitimização e politicamente correta que tanto infestam esse tipo de filme. Mas Mocarzel fez EXATAMENTE isso, um filme chapa branca, um institucional para pais de crianças com síndrome de Down, mostrando que “são pessoas como qualquer outras, que é uma benção de Deus que essas pessoas estão vivas”, etc, etc. Ou seja, é um trabalho muito desapontador dada a trajetória de Mocarzel.

O próprio diretor tem uma filha com Down. Provavelmente foi isso. Ele quis fazer um trabalho respeitoso, e acabou respeitoso demais. Para mostrar que são pessoas como quaisquer outras, ele mostra pessoas com Down dançando, surfando, beijando na boca, etc., o que na minha opinião só corrobora os preconceitos.

Tem uma hora que Mocarzel dá a câmera pros personagens. Trash! O filme que eles fazem é ruim de dar dó. Além disso, o roteiro é do próprio Mocarzel e fala sobre um pai que recebe a notícia de que tem um filho Down. Isto é, o institucional dentro do institucional.
O filme fala uma coisa interessante, que é sobre a inclusão. Downs têm que estudar com pessoas normais, não tem que ter a segregação. Mas como Mocarzel mostra isso? Com depoimento dos pais, e não mostrando o dia-a-dia na escola, a convivência e o preconceito diários... é isso que me irritou no péssimo e dispensável Do Luto à Luta, que no final acaba sendo um desserviço à trajetória de Mocarzel.

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