Old Boy

Old Boy
De Chan-Wook Park
Espaço Unibanco 2, dom 15 15:20
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O filme anterior de Chan-Wook Park - Zona da Emergência – passou num desses Festivais do Rio, e era muito ruim, acadêmico, aquele tom de filme político correto, um erro. Mas a artesania do filme era impressionante. E agora, vendo Old Boy, entendemos: aquele era uma espécie de filme de encomenda, em que o diretor desenvolveu esse lado da artesania. Vendo Old Boy isso se revela de forma contundente: é impressionante o domínio cênico, de linguagem, de ritmo, de encadeamento narrativo do filme, etc. Mas isso acaba sendo o que menos importa no filme, e isso acaba sendo ainda mais impressionante. Facilmente poderíamos pensar no filme como seria se fosse feito em Hollywood: o “filme-sacada”, baseado em um fim-surpresa, etcetera e tal. Mas Old Boy transcende tudo isso porque é feito de cinema, não só pela parte da carpintaria mas porque o tempo todo é nítida a construção de um olhar que atinge em cheio os personagens.

Old Boy é acima de tudo bastante comovente. A primeira parte do filme, num lugar fechado e claustrofóbico, onde o personagem tem várias alucinações, é filmada com um rigor mas com um desejo de linguagem ousado e surpreendente. Quando o personagem sai, sua estranheza em relação ao mundo, a volta do contato com sua nova realidade, são filmados com muita personalidade.

Mas o que eu queria realmente falar sobre esse texto é como Old Boy é um filme tarantinesco, como me lembrou de Kill Bill. Isso porque ao final o filme se revela um melodrama. É um filme violento, e um filme sobre a vingança, mas a ternura com que Chan-Wook Park coloca ao final de seu filme é impressionante. E, como típico filme oriental, não tem margem para o paternalismo. O filme é muito doloroso sobre a miséria da condição humana, sobre a imposssibidade da vingança, como, por uma coisa à toa, sem querer, pode-se destruir com a vida de uma pessoa, sobre as regras implícitas da sociedade, sobre o valor do amor e da amizade, sobre a liberdade. Vítima e algoz, ao final, se abraçam, um abraço difícil e verdadeiro, ainda que ambos continuem extremamente distantes, uma distância que não pode ser mais revertida. Enfim, esse cinema oriental realmente é muito sinistro, e Old Boy só comprova uma coisa simples: é claro que é possível conciliar um cinema de hiperviolência com um cinema de poesia. Ou ainda que a violência gráfica nunca entra em conflito com um cinema que tem um olhar pelas pessoas.

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