BENDITO FRUTO

Bendito Fruto
De Sérgio Goldenberg
CCBB qui 22 set 19hs
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O papel do encontro, ou melhor, do reencontro

Talvez por tê-lo visto em uma semana que foi muito desgastante para mim por causa do trabalho, ver EBNDITO FRUTO foi uma das mais intensas experiências no cinema nesse ano. Talvez porque eu não esperasse muita coisa do filme, ou talvez porque eu esperasse uma comédia inconseqüente sobre um cabeleireiro de Copacabana e sua empregada (não sabia quase nada sobre o filme). Então que me debrucei com um filme profundamente honesto, e muito bonito sobre como a vida pode nos oferecer uma oportunidade de reconciliação, ou sobre como as pressões das pessoas ou da sociedade podem nos afastar do que realmente precisamos para nossas vidas. Bendito Fruto faz esse exame com um olhar muito humano e delicado, e ao mesmo tempo bem-humorado sobre o tema. Na verdade o filme é um drama e não uma comédia, e o ótimo roteiro de Sérgio Goldenberg consegue abraçar todo esse lado pitoresco da Zona Sul do Rio de Janeiro, etc, com um exame delicado sobre as limitações e as vidinhas de seus personagens. A direção do estreante Goldenberg é sábia, ainda que bastante discreta. Se as soluções de decupagem e ritmo não empolgam muito, o filme acerta por encontrar esse tom ambíguo entre a comédia e o drama. O filme, na minha opinião, consegue fazer um inventário (uma crônica de costumes) sobre o Rio de Janeiro e nosso caldeirão de culturas, porque é um pequeno, modesto libelo a favor da tolerância e do respeito à diferença. Ao final, no entanto, Goldenberg não é assim tão romântico: a menina (Camila Pitanga) morre num tiroteio, Vera Holtz volta solitária para Ribeirão Preto, Biribi continua na rua, Otávio Augusto e o filho não conseguiram ainda se reconciliar. Mas se o encontro definitivo entre Otávio Augusto e Zezeh Barbosa demorou quase toda uma vida, por que não esperar que o tempo possa reaproximar pai e filho?

Por fim, não concordo nem um pouco que o filme possa ser considerado preconceituoso. Ao contrário. Creio que é uma das mais honestas declarações da dificuldade de se lutar contra os preconceitos que já estão mais que arraigados na nossa vida de cada dia. Uma cena muito bonita foi quando Zezeh Barbosa volta para sua casinha, tirando as toalhas dos móveis, sem emitir nenhuma palavra. Cinema simples e puro.

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Vendo Filhas do Vento e Bendito Fruto logo em seguida ficou muito claro como o tema do encontro, ou do reencontro, é muito essencial e muito forte para mim. Pessoas que levam toda uma vida para esclarecer pequenos mal entendidos, para superar pequenas pendências que se revelam grandes. Isso porque as pessoas são diferentes e porque as outras pessoas, as coisas, e as malditas convenções da sociedade fazem as pessoas ficarem meio cegas, apesar de os dois lados terem razão. Essa possibilidade de diálogo e de convívio com a diferença eu acho muito bonito o cinema poder apontar com honestidade mas sem demagogia essa possibilidade.

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