Daia Florios sobre Abismo + Desertum

Comentários de Daia Flórios sobre a sessão de sábado: Abismo + Desertum


Abismo:
(ou “coisas que vc só faz no banheiro”)

Ao mesmo tempo em que não me sinto hábil para falar sobre o vídeo caseiro “Abismo” de Marcelo Ikeda, talvez pela complexidade do que assisti, sinto vontade de compartilhar meu incômodo.

A busca do auto-conhecimento é tão importante quanto antiga e difícil. Há coisas que você só fala para seu melhor amigo, há coisas que você não fala nem para você mesmo. Segundo a Danusa Leão: “palitar os dentes, nem sozinha em um banheiro escuro”. Concordando ou não com ela, todo mundo faz coisas que só mesmo um banheiro poderia ser usado de cenário.

Quem nunca ficou se olhando num espelho? procurando por detalhes que só quem se auto-examina consegue ver? quem nunca se achou bonito, risível ou nojento? mas não contou ao melhor amigo...porque, talvez, isso não interesse a ninguém...o auto-conhecimento, a auto-crítica, a imagem que se tem de si mesmo só interessa a quem se enxerga. Isso é angustiante, incômodo e triste. Tive essas sensações com o vídeo “Abismo”, cujo título ainda enfatiza a dificuldade do tema.

Eu não teria coragem de dizer o que faço num banheiro, embora seja humano e natural, fazê-lo. “Abismo” desconcerta o espectador porque mostra o que todos fazem mas não têm coragem de dizer.


Desertum


Uma pessoa viaja para qualquer lugar e observa com distância o desconhecido:

E permanece distante porque o lugar é tão desinteressante (isso eu já conheço, já vi isso antes); e é tão desconhecido (isso não me interessa, isso é diferente de mim).

O olhar às vezes é detalhista, interessado, mas é sempre frio.

Não há para onde ir quando, internamente, se permanece no mesmo lugar.

Comentários

Anônimo disse…
ikeda, sobre o teu filme eu botei um texto lá no meu blog.

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