MFL: A Respiração

A Respiração, de Raphael Fonseca
Como se fosse um quadro de Matisse, ou ainda de Cézanne, o grande trunfo de A Respiração é a quebra da unidade espacial entre o que está em primeiro plano e o fundo das figuras. Baseado em cenas urbanas, os objetos (pontas de prédios, palmeiras, etc.) se confundem com o “espaço vazio” entre eles (o céu, o ar, o vento). Com isso, quebra-se a tridimensionalidade e os “espaços vazios” passam a assumir tanta vida quanto os objetos físicos. Ou ainda, o imaterial torna contexto tão tangível quanto o concrescível. De forma análoga, vem o som perturbador, formado de ruídos, microfonias, timbres agudos, e, claro, de silêncio. Com isso, nos lembra do princípio zen, em que se enquadra pelos espaços vazios e não pela matéria, ou ainda, que os espaços vazios e os silêncios “falam” tanto quanto os espaços cheios. Com esse jogo vazio/cheio, ruído/silêncio, cor/imobilidade, Raphael faz um filme plástico, com base na fotografia, mas que perturba pela imobilidade e pela desorientação do espectador nesse espaço aparentemente trivial que nos passa a ser apreendido de forma intensa mas fugidia.

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