Trecho de carta do Joel Yamaji para Rosemberg sobre meus vídeos esquisitos.

 

(...) Vi, finalmente no DVD os trabalhos do Marcelo Ikeda. São muitos. E vê-los de uma só vez é uma pedrada. Há momentos em que chega a ser irritante: por exemplo, aquele sobre o Rio, feito apenas de tomadas de cenas de rua, durante o dia e à noite, com os ruídos não trabalhados de trânsito. A pessoa que estava comigo pulou fora da sala. Mas depois, na insistência na repetição (até dos temas), na monotonia de um cotidiano vazio que aparece como pano de fundo e acaba por ser a verdadeira matéria dos vídeos, o mundo visto através daquele apartamento caótico, da janela daquele apartamento, e também todo ele frio, exasperante, sem vida, e também na coragem com que ele assume e se afunda no marasmo, na ausência de perspectiva, na dor de um amor mal resolvido, tudo isso que pode ser irritante, mal trabalhado, tosco, nos vídeos, vai surgindo como qualidade, como estilo e como radical ponto de vista. Há um critério sempre por trás, e esse critério pode ser uma forma de olhar, mesmo que ainda em formação, juvenil, incipiente até. Mas quem assume a dor de um amor impossível não é, sem dúvida, um boçal. E eu prefiro um olhar assim do que o da maioria desses outros jovens deslumbrados com a pouca merda que têm. De qualquer forma, esse Marcelo Ikeda parece ser um rapaz interessante. Ele precisava só de ter um pouco mais de estrutura de produção, de elaborar um pouco melhor o som e a textura da imagem, a luz (afinal produzir um vídeo não é apenas registrar as coisas tais como são – haverá sempre uma elaboração por detrás, arte e ciência, é o que distingue um realizador de uma pessoa de senso comum – me perdoe o elitismo que pode estar equivocado – isso é influência do Tarkovsky, a exigência de uma qualidade maior (...)

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