Boa Noite e Boa Sorte

Boa Noite, Boa Sorte
De George Clooney
Reserva Cultural, qui
***

Pensei que o filme do George Clooney (que assisti em São Paulo meio por acaso, apenas para matar o tempo) iria ser um daqueles filmes corretos mas chatos (i.e politicamente corretos) sobre o macartismo, mas (felizmente) me enganei. O filme vai além do tema político por apresentar dois méritos indiscutíveis: 1) como ele relaciona a mídia como um processo metalinguístico; 2) como o faz por meio de uma estética austera e segura.

Livremente baseado em fatos reais, Clooney faz um adendo sobre a América como o “país livre” e defensor da liberdade de opinião. Mostra um jornalista que luta exatamente para que as pessoas tenham o direito a se defenderem das acusações de comunismo, e não que sejam condenadas sem julgamento, ou sem provas. Mas o mérito é a observação da responsabilidade e do papel da mídia na condução desse processo. Mostrando os bastidores da produção de um programa de TV, o filme mostra as entranhas do processo de fabricação de um discurso. E daí vem sua inspiração metalingüística. Da mesma forma que se constrói o programa de Tv, Clooney constrói seu filme.

Claustrofóbico (quase todo o filme é passado no estúdio do programa, onde as pessoas fumam o tempo todo), Boa Noite, Boa Sorte ainda conta com uma extraordinária fotografia em preto-e-branco que paradoxalmente revela sua atualidade: a mídia cada vez mais controla e vilipendia a opinião pública. O programa de TV também precisa vender e tem patrocinadores, por isso os jornalistas precisam rebolar para manter seu tom crítico e corrosivo ao sistema. Até que finalmente são vencidos pelo sistema. O show precisa continuar. Acaba sendo um corolário ético sobre a necessidade de o jornalismo não se vender diante das ameaças meramente mercantilistas.

A direção de Clooney é perfeita dentro dos moldes da narrativa clássica do cinema americano: coesa, límpida, com um ritmo e papel da montagem exemplares. O domínio da direção, dos deslocamentos, do ritmo tornam Boa Noite, Boa Sorte um exercício de contenção. Uma bela surpresa. Uma bela obra em termos de política, de sociedade, de história, de cinema.

Comentários

Anônimo disse…
puxa, que bom q vc gostou
ele entra em cartaz aqui na minha cidade na quinta feira
antes tarde do que nunca
ese final de semana vou assistir "Se eu Fosse vc" , não tenho nada pra fazer mesmo... deve ser uma novela das oito em miniatura. Vo só da umas risadas e se tiver coragem posto alguma coisa sobre ele no blog
ae!

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