A Derrota

A Derrota

De Mário Fiorani

MAM qua 16 :30

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Eu tinha uma grande expectativa para ver um filme desse italiano chamado Mário Fiorani, radicado no Brasil, que fez dois filmes sem grande repercussão e voltou para Itália. No MAM, dentro do Cinesul, passou A Derrota, para cinco pessoas. Se o filme não comprovou minhas expectativas, mostrou alguns méritos desse filme praticamente esquecido dentro do cinema brasileiro.

Típico primeiro filme, A Derrota é um pequeno exercício formal de compressão do tempo e do espaço, como sugere o início do filme, em que o protagonista, representado por Luís Linhares, toma consciência e se descobre como prisioneiro num amplo casarão, com paredes velhas e descascadas. Claramente, A Derrota se filia à tradição do cinema novo: se o contexto político não é citado explicitamente, a prisão, a tortura, a opressão fazem nitidamente referência ao regime militar. No entanto, em algumas partes, vai lembrar alguns aspectos do cinema marginal: na precariedade de produção e no tratamento de elementos que lembram o abjeto e o sujo (o vômito, o look do casarão, o prato de comida, e principalmente na metalinguagem – refletores aparecem no meio do filme, mostrando que é um processo fabricado)

A Derrota é um filme simples, quase precário de produção, e que tem uma descontinuidade estranha quando surgem tiroteios e o filme quase vira um thriller, perdendo seus feitios mais psicológicos. Mas o que é interessante é esse clima um tanto particular que Fiorani cria para seu filme, valorizando os tempos mortos, com poucos diálogos, que acentua o vazio de seu lado psicológico (não há explicações sobre a origem do personagem) e com uma decupagem que registra os poucos elementos físicos do cenário. Conta, tbem, com uma participação ativa da fotografia e câmera de Mário Carneiro, discreta, elegante, mas muito efetiva.

É muito curiosa a escolha do personagem de Luís Linhares, que aliás tem uma boa participação no filme, com um grande trabalho de entrega física. Ele mata vários capangas, mas deixa vivo (acorrentado) um certo intermediário. Depois, este consegue se soltar e capturar o prisioneiro, mas, de alguma forma, isso deixa marcas nesse intermediário que o levam a refletir. Não se sabe se isso será suficiente para ele mudar, mas é um início.

Sugestivo, instigante, o título A Derrota é o resumo do filme. O final é marcante: o preso, tenta fugir, mas é preso, enforcado e morto. Suas cinzas são queimadas, para que não sobrem os restos. As cinzas são apenas pó (i. e não cabe o romântico final de um Jules e Jim, por exemplo). A Derrota significa várias derrotas: de um projeto político de um país, de um projeto de liberdade das amarras da condição humana (a personagem de Glauce Rocha se vende ao sistema e acaba bem), a derrota de um projeto pessoal do cinema de Fiorani, enfim, a derrota de um cinema brasileiro. No fim, suas cinzas jogadas num forno. Ou seja, A Derrota, ainda que ingênuo, é profundamente atual.

Comentários

Anônimo disse…
Cara, 'Uma visita ao Louvre' (colorido, sim) é fantástico. Mas você sabia que aquela é uma versão televisiva, com seus 47 minutos? A versão para o cinema tem 135 minutos. Seria fácil obtê-la? Um abraço. Em tempo: Gostei muito do nosso encontro no dia do jogo com o Japão, ao lado de Rô, Mourão e Dáia (que figura encantadora!). Outro abraço.

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