Mouchette

(R) Mouchette

De Robert Bresson

Odeon, qua 14 20:30

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A gente sabe que a vida é ruim, mas muitas vezes a gente não se dá conta do quanto. Mouchette é um dos filmes mais tristes da história do cinema, porque não se preocupa em parecer triste, ele simplesmente é. É um filme seco e descritivo, como o eterno cinema de Bresson. Fica difícil falar sobre o filme, dada a sua maestria. Nessa terceira vez que o vi, percebi aspectos que tinham me passado despercebido das outras vezes, especialmente como as cenas do parque são boas e bem filmadas, e como elas são importantes no filme. Um parquinho de diversões sempre é fascinante, e o cinema francês sempre teve essa coisa do parquinho bem presente. A câmera passeia entre os presentes com grande desenvoltura e desembaraço, nem parecendo um filme do Bresson. É impressionante como esse filme é todo muito bem filmado... A cena do “bate-bate” é antológica: essa mistura de inocência e violência está lá, está em todo o filme. Mas por que Mouchette deixa de acreditar na vida? É claro que Mouchette vai se entregar ao epiléptico Arsène, porque ele foi o único que lhe deu amor em toda a vida, ainda que esteja bêbado e queira estuprá-la (meros detalhes.....rsrsrs). É impressionante a decupagem do Bresson, porque é muito clara, e valoriza demais os objetos e as ações físicas, o que faz o filme ganhar uma materialidade, uma forma física, que, claro, vai reforçar as partes em que se apóia no espiritual. Exemplo máximo é no suicídio de Mouchette ao final. Tudo é muito insuportável. Não tem olhada dela pro horizonte como se fosse despedida ou coisa do tipo. É ela rolando pela grama e só. E o lago, triste e lindo, como se fosse um filme de Straub. Fantástico filme! Depois do filme, participei do debate... na sinuca da Lapa, claro....!!!

 

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