mais dois vídeos caseiros

mais dois vídeos caseiros

 

Na sexta, estreou no Ateliê mais um vídeo caseiro para minha coleção. É HOJE é (quase) todo feito com fotos estáticas do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, mas com um outro olhar: o mesmo cinema materialista, a busca pelos espaços vazios, a solidão, a melancolia. Ao fundo, canto uma música, quase como em Alvorecer. Na verdade, este trabalho surgiu a partir de uma sugestão do mineiro Dellani Lima para eu prosseguir com a linha do Alvorecer. E assim o fiz, combinado com o desejo antigo de usar essas fotografias do desfile. Acaba sendo um olhar íntimo sobre o desfile que fala sobre “a quarta-feira de cinzas”, porque para mim a própria essência do Carnaval é a quarta-feira de cinzas, o pierrot abandonado, e por aí vai. Um pequeno avanço: o trabalho com as fotografias, aumentando o contraste, deixando os tons mais fortes nas cores quentes, e tirando a saturação dos tons mais frios, intensificando os conflitos do desfile. E na montagem, tornando o filme mais enxuto, mais coeso e mais preciso.

 

No domingo, passei para alguns poucos amigos um outro vídeo feito especialmente para a ocasião. Preferi intitulá-lo de UM FILME ABSTRATO – PARTE III (EU TE AMO). Um filmete (enfim, mais um exercício) sobre o amor, ou ainda sobre a impossibilidade de amar, tal qual nos diz Dreyer em sua obra-prima Gertrud (um filme que a cada dia que passa tem ficado cada vez mais na minha cabeça). Essa “parte III” surgiu de uma necessidade de colocar minhas angústias diante do meu momento de hoje, e o filme o faz com um tom muito cerimonioso e bastante pesado (eu diria que é o filme “mais barra pesada” da minha coleção, o que não é pouco). Veio tbem, de uma provocação do Rosemberg sobre a necessidade de os meus vídeos terem música, e esse foi o principal avanço formal deste trabalho. Ele na verdade é uma combinação (compilação) de uma série de artifícios usados em outros trabalhos mas com uma reavaliação (o “som, câmera, ação” de Cinediário, o espelho do banheiro de Abismo, os planos estáticos da casa de sempre, a estrada que vai para o branco do Em Casa, as telas de cor do filme abstrato parte II, etc.) Formalmente, o filme é todo feito com planos bastante longos, telas negras, e um desejo de uma homenagem ao cinema do Straub e as referências (centrais) ao cinema dos Irmãos Pretti, em especial ao Amador. “Eu te amo” e “Eu preciso te amar”: o cinema como espelho, a tela negra como ética da filmagem, a busca (impossível) pelo amor num mundo estático e parece responder muito timidamente a esse apelo (i.e não é que não responda). E um final muito austero, um tanto duro, um “doloroso olhar-se de frente” típico dos finais dos meus vídeos, mas também um mergulho (doloroso e abstrato) de luz e de sombra, como se fosse um quadro da fase final de Rothko.

 

Dois trabalhos “de sempre” mas que me deixam satisfeito por mostrar um “caminhar com coerência”. Agora, tem o filme de Floripa, e vamos ver se eu consigo fazer os “filmes com atores”.

 

Atualização da minha “filmografia”

(desculpem a punhetação mas é para eu não esquecer... já cheguei aos 20 filmes, contando com os “renegados”...)

 

Depois da Noite (1999, VHS, 18´)

Casulo (2000, VHS, 8´)

Entremeio (2002, Digi8, 12´)

Alvorecer (2002, MiniDV, 8´)

Spencer, Ontem, Hoje e Sempre (2003, MiniDV, 10´)

Tesouro do Samba (2004, Digi8/MiniDV, 40´/20´)

Canção de Amor (2004, MiniDV, 10´)

Cinediário (2004, MiniDV, 22´)

Auto-Retrato do Artista Durante a Gestação (2005, MiniDV, 15´)

O POSTO (2005, 16mm, 15´)

EM CASA (2005, MiniDV, 78´)

Natal (2005, MiniDV, 15´)

Um Filme Abstrato – parte I (2005, MiniDV, 10´)

Um Filme Abstrato – parte II (2005, MiniDV, 6´)

Abismo (2005, MiniDV, 21´)

Natal (2005, MiniDV, 15´)

DESERTUM (MiniDV, 81´, 2006)

É Hoje (MiniDV, 4´, 2006)

Um Filme Abstrato – parte III (2006, MiniDV, 9´)

 

Comentários

Anônimo disse…
Gostei muito do filme abstrato parte III. Você tem um talento pra tirar dos espaços vazios (arquitetura) toda uma realidade de sentimentos íntimos e interiores. desconcertante. abs.

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