texto Daia

Divagações sobre o Amor

(Sobre Um Filme Abstrato – Parte III- Amor: de Marcelo Ikeda)

Por Daia Flórios

 

Assisti a mais um filme doidinho de Marcelo Ikeda: Um Filme Abstrato – Parte III - Amor. Segundo o autor, este filme tem várias referências a outros filmes seus. Começo então citando uma cena, que me parece ter dado início a estas minhas divagações do amor, e que remete ao Abismo, um dos filmes do Ikeda que gosto muito.

 

No Amor, um homem frente ao espelho do banheiro diz: “eu te amo” sem o entusiasmo dos que amam e tampouco a falsidade dos que finge que amam. É um “eu te amo” que não convence e que é triste porque é incerto e não sabido.

 

O som das palavras “eu te amo” percorre pela casa vazia e melancólica. Nostálgica, talvez, com luzes aconchegantes nos ambientes: sala, quarto e cozinha. No banheiro ficou a imagem do homem se olhando no espelho ecoando o “eu te amo” pelo vazio deixado pela ausência de quem se ama, preenchendo todo o espaço, impregnando o ar de solidão, falta e saudade. A saudade é um sentimento, de certa forma, positivo. Não há saudade do que fora ruim e da saudade vêm sentimentos agradáveis e este mesmo espaço impregnado da ausência pode ser repleto de um amor a este mesmo espaço vazio, apto a proporcionar o amor a si próprio, desfrutado na solidão da própria companhia. E o som, do “eu te amo” percorrendo estes mesmos espaços te deixam dúvidas a respeito do amor.

 

É mesmo necessário amar? O quê? E por quê? Para amar é necessário companhia? Pode-se amar de longe, mas a presença de alguém é imprescindível para o amor? Para amar você precisa que alguém também te ame? É necessária a troca de carícias e coisas e tal? Se for, para serem amadas, as pessoas precisam ter boa aparência para conseguirem conquistar, isso seria, talvez, uma armadilha capitalista para que as pessoas consumam mais em busca do amor? É mesmo necessário que se ame, que exista alguém a preencher, fisicamente, os espaços vazios da sua casa? da sua vida? Enquanto isso for uma necessidade as palavras “eu te amo” não soarão tão automáticas quanto duvidosas?

 

Cenas de solidão acompanhadas de música clássica aparecem e ao final, um carro percorre uma estrada vazia. Provavelmente alguém sozinho o dirige na solidão da vida que segue independente dos amores e desamores, porque na morte, assim como na vida, também estaremos sozinhos.

 

Comentários

Anônimo disse…
Oi, os olhos da Dáia são docemente interpretativos, docemente analíticos, o que me faz sentir vontade de ver esse seu filme. Aliás, Rô já tinha me falado muito bem dele. Um abraço pra você e um beijo na Dáia.
Julio Bezerra disse…
Marcelo,

Tudo bem? Temos trocado alguns emails a respeio das fitas do Rosemberg... Gostei do "É Hoje" e fiquei com vontade de ver o "Um filme abstrato". Para ter acesso a teu filmes... Você poderia incluí-los na nossa troca...

Um abraço,
Julio

Ah... aproveito pra te convidar a conhecer meu recém criado blog:
http://www.cinekinos.blogspot.com/
Cinecasulófilo disse…
gente, estou com dificuldades pra responder os comments porque no meu katzo de trabalho e bloqueado, mas estou lendo tudo, origado e continuem comentando!! heheh

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