(Fest Rio 8)

12:08 A Leste de Bucareste

de Corneliu Porumboiu

São Luiz ter 3 19hs

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A Pandora já comprou os dois filmes romenos exibidos no Expectativa neste Festival, mas, não sabendo do fato, acabei vendo os dois. Este aqui foi o tal romeno que ganhou o Camera d´or em Cannes este ano (um bicampeonato romeno, já que o excelente A Morte do Sr. Lazarescu ganhou o caneco ano passado). Porumboiu já tinha ganhado o Cinefoundation, o que dá direito ao primeiro longa competir ao Camera d´or, e não só competiu como ganhou o prêmio.

 

Mas com um certo exagero. Não é um grande filme, embora tenha certamente o seu interesse. Como típico filme da Europa Oriental, tem aquele humor ácido, um desejo de linguagem, e uma poesia inesperada. O filme faz uma avaliação crítica da queda do ditador Ceausescu, perguntando-se se houve de fato uma revolução, ou não. Ele investiga, com olhar sarcástico, o dia em que se completa 16 anos da data da “revolução” no cotidiano de uma cidadezinha romena.

 

Nisso, o filme tem duas partes. Na primeira, ele observa o dia-a-dia de pessoas comuns: um professor universitário beberrão no dia do pagamento, que deve a Deus e o mundo; um idoso solitário que era papai-noel; o apresentador de uma emissora de televisão. Um cinema de observação: câmera parada, sem tirar conclusões. Mas as conclusões são claras: a vida mesquinha, solitária, fútil daqueles três romenos e seus familiares. A revolução não mudou nada.

 

Na segunda parte, há o programa de TV, em que o apresentador e seus dois convidados (o professor e o velho) discutem sobre o que fizeram 16 anos atrás, no dia da revolução. Vemos tudo pelo olho da câmera de TV (ou seria da câmera de Porumboiu?), e como é uma emissora pequena, transmissão ao vivo, a estética é tosca, com zooms, planos fora-de-foco e tudo o mais possível. Nessa parte, o filme cansa e perde um pouco do seu vigor, se bem que Porumboiu segura de forma incrível o filme praticamente no roteiro, porque não há quase nenhuma alternativa para seguir o filme adiante. Ele até brinca um pouco com isso, quando no final o apresentador “enrola” até que chegue ao horário final do programa porque não há mais o que dizer. A conclusão é que, pelo menos naquela cidade, não houve revolução: os moradores foram às ruas encorajados pelo que viram na TV, pelos rumos da agitação que vieram da capital.

 

Mas é no final que Porumboiu mostra que seu cinema não é tão ingênuo, e uma poesia surpreendente surge no filme. O velho diz que é assim mesmo: não é que eles sejam covardes, mas a revolução é como as luzes nos postes da cidade: cada poste se acende um a um, seguindo o fluxo da transmissão elétrica, o que é bem diferente de acender todos de uma só vez, porque isso seria improvável. Lembramos do início do filme, quando mostra o início do dia na cidade, cada poste de luz tendo sua luz apagada. O final, de forma circular, retoma isso: cada poste acende um a um, numa determinada rua, e em outros, acende todos de uma só vez. Creio que depende se a rede é “em série” ou “em paralelo”, com estudamos na física. Ficamos na dúvida. No fim, surge a tal praça, vazia, com as luzes acendendo.

 

Surpreendentemente, o irreverente, ousado, sarcástico e político 12:08 A Leste de Bucareste vira um filme poético, contemplativo, filosófico, sobre a natureza das coisas e da vida. Um lindo final. Aguardemos o próximo filme de Porumboiu.

 

É interessante comparamos os dois filmes Como Festejei o Fim do Mundo e 12:08 A Leste de Bucareste, duas visões da queda de Ceausescu na vida comum de habitantes de uma cidade no interior da Romênia. Enquanto o primeiro tem lições sentimentais típicas do filme romeno de exportação, o segundo tem uma visão crítica e irreverente, e uma grande força de linguagem não-convencional, embora possa cativar um certo público por seu humor rasgado.

 

 

 

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