Um Casal Perfeito

Bom, se ainda for possível, vou tentar escrever alguma coisa sobre os filmes do Festival do Rio para não passar em branco, com as lacunas da distância e da pressa do hoje

 

Um Casal Perfeito

de Nobuhiro Suwa

** ½

 

Primeiro filme do Nobuhiro Suwa exibido por aqui e único filme japonês exibido no Festival do Rio (o Coração Batendo no Escuro não contou porque não chega a ser um filme), este Um Casal Perfeito é curioso porque na verdade não é um filme japonês e sim um filme francês dirigido por um japonês. O filme é todo uma lavagem de roupa suja de um casal que está prestes a se separar. E nisso pensamos em diversos filmes, como Cenas de Um Casamento, e outros, quando um bla-bla-bla chato enche a tela. Acontece que é um filme francês, ou seja, tudo tem um cinema extremamente intelectual e pensado. E por outro lado, acontece que é um filme japonês, acontece que é um filme autoral em que tem um japonês por trás, então esse cinema tem todo um peso e toda uma outra abordagem em relação à intimidade desse casal, em relação à dificuldade que é de fato se comunicar e em relação às potencialidades do cinema em poder expressar essa dificuldade. O “lado japonês” de Um Casal Perfeito é o que mais me encanta: o rigor da câmera, esse distanciamento ao mostrar essa intimidade, as visitas ao museu como espelho dessa fissura. Dois ou três planos me incomodaram, assim como alguns estereótipos em relação ao lado masculino e feminino dos protagonistas. Mas no fundo, o que fica de Um Casal Perfeito é a sensibilidade do diretor em relação aos tempos, em perceber essa relação de uma forma menos esquemática, mais viva, e em como o cinema pode acompanhar pessoas sem cair na caricatura do cinema americano. Fica também uma fotografia extraordinária (talvez seja um dos filmes mais bem fotografados que eu vi nos últimos anos) porque a fotografia, ao invés de apontar para a mera fotogenia do plano, serve demais à dramaturgia, e todo o filme tem um clima escuro, difícil de traduzir, quase no limite da luminosidade. Tem uma seqüência no final que o casal tenta transar mas não consegue que esse olhar oriental está lá, todo ele lá. Um filme que nos abre novos caminhos, que nos faz pensar em como o cinema pode ser simples e complexo, que nos faz ter esperança que o cinema pode ser alguma coisa além do rame-rame se tivermos mais coragem, essas coisas...

 

 

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