Um cinema invisível

 

A curadoria da Mostra do Filme Livre acabou. O saldo acaba sendo o cansaço. Fiquei pensando, nesse estudo que venho fazendo sobre algumas questões do cinema contemporâneo, no que eu tenho visto na Mostra que se encaixa nesse perfil. Quem é que no Brasil tem uma proposta de um trabalho de investigação conceitual, estética, uma investigação dos limites da imagem, dos códigos de linguagem?

 

Poucos, muito poucos. E esses poucos estão longe, longe dos festivais de cinema brasileiros, estão longe dos noticiários sobre o cinema brasileiro, estão longe dos elogios dos críticos e das páginas dos jornais e das nets. Esse cinema é um cinema invisível. E na MFL vai continuar sendo invisível porque passam 300 filmes e não se tem nenhuma cobertura ou atenção crítica sobre o evento. Neguinho (que ainda se diz sério) prefere cobrir a Curta Cinema que a Mostra do Filme Livre...

 

Tem os textos sobre os indicados, que dão alguma luz, algum registro sobre esse cinema invisível. Algo poderia ser falado sobre esses realizadores que estão ali trabalhando uma questão, uma proposta, mas que muitas vezes num só filme a gente não consegue ter a dimensão desse processo, perdido no meio de outros 300.

 

Mas o que de melhor se vê hoje em termos de linguagem audiovisual no país vem de BH. É uma barbada. Os piores são do RJ e RS. É muito engraçado que dois festivais “livres” do país sejam sediados no RS, porque o cinema de lá nada tem de livre ou criativo, fora algumas exceções. No RJ, em 90% reina a terrível superficialidade do modo de vida do carioca.

 

Mas em BH não. Há um cinema que se funde com as artes plásticas, há uma proposta de um frescor do olhar, há uma busca por uma poesia que vai além do filme. E tem bastante gente, uns mais outros menos conhecidos. Tem o cinema da Teia, que é o melhor cinema do Brasil.  Tem toda uma galera à margem que faz um cinema de verdade.

 

Eu também escrevi um texto para o catálogo falando sobre a curadoria da Mostra. É um texto que eu gostei muito, porque, ao invés de colocar esse meu certo desânimo (como eu queria fazer), eu preferi colocar o que representa para mim “um filme livre”. E também quis fugir do blá-bla-blá teórico como faço todo ano, que o filme livre não existe, etc. Bom, depois eu posto o texto aqui.

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