Aboio e uma nota

Aboio

De Marília Rocha e o pessoal da Teia

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Queria rever o Aboio para falar com mais calma, já que tem uns dois anos que o vi, na seleção da Mostra do Filme Livre. De qualquer modo, com o Festival do Rio aí na porta, não devo fazê-lo, então vai mais como registro: mais uma contribuição do cinema de BH e do pessoal da Teia dentro dessa nova safra de documentaristas brasileiros. Aboio é um olhar sobre um Brasil interior sem esse ranço do cinema político: uma investigação poética dos rastros da memória, do tempo e do percurso, e nada melhor que o som para registrar isso, essa possibilidade de perpetuação de uma “memória poética”. Os vaqueiros, o próprio Aboio, rituais em vias de extinção, mas também se reformulando para poder continuar existindo, dados os novos tempos. Com um diálogo com a videoarte, típico dos trabalhos mineiros, com grande sensibilidade, Marília Rocha constrói um documentário em que o lado sensorial vale muito mais do que informações sobre esse Universo: o importante é senti-lo, vivenciá-lo, experimentar essas sensações. Com isso, faz um retrato íntimo de um Brasil que se conhece de longe e, ao final do filme, por mais que se vivencie esses momentos, permanecemos longe de compreender essa magia, esse feitiço. Que no fundo é intangível. Como o som. Daí essa é a grande contribuição de Aboio dentro do documentário brasileiro contemporâneo, de fugir do filme de entrevistas para fazer um cinema sensorial sobre um universo íntimo quase desconhecido. E ao mesmo tempo de falar sobre o Brasil (isso é importante pois o cinema experimental sempre é rotulado como uma fuga das questões coletivas, etc, etc).

 

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Outra nota: estreou Os Anjos Exterminadores, do Brisseau. Primeiro filme desse formidável cineasta francês a ser exibido comercialmente no Brasil. Ainda que eu prefira seu anterior Coisas Secretas, dá gosto de ver o lançamento desse filme. No entanto, eta data ruim, quando o Festival do Rio está aí na porta. De qualquer forma, é a chance do público conhecer esse sacana pervertido que faz um cinema brastante intelectualizado como o Brisseau, e que ainda mistura corpo, espírito, representação, metalinguagem, anjos, demônios e mulheres, claro. Imperdível. Segue o texto que escrevi no Festival do Rio do ano passado, quando o vi (corrijam o nome do diretor, que faltou uma letra).

 

http://cinecasulofilia.blogspot.com/search?q=anjos+exterminadores

 

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