(FESTRIO 11) Une vieille maîtresse

Uma velha amante
De Catherine Breillat
Estação Botafogo 1 dom 15:45
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Se por um lado Uma Velha Amante pode parecer o filme mais "acadêmico" da
ousada cineasta francesa Catherine Breillat, por outro ele apenas confirma o
talento da realizadora. Pois esse filme de época, que em muitas medidas se
parece com uma espécie de Ligações Perigosas, é um filme que desenvolve
temas típicos da filmografia de Breillat, ainda que de forma menos radical,
mas não com menos brilho.
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Ryno de Marigny (a brilhante revelação Fu'ad Ait Aattou - difícil vai ser
decorar o nome...) vai se casar com uma mulher ingênua recatada, enquanto
tenta esquecer sua amante, Vellini (a vulcânica e esplendorosa Asia
Argento). Mas acontece que não é muito fácil esquecer Asia Argento. O filme
então fala dessa entrega impulsiva a uma paixão arrebatadora, e é através da
carne e dos olhares que todo o cinema de Breillat se faz presente
(especialmente pelos olhares e pelos incríveis usos do primeiríssimo plano).
Mas Uma Velha Amante é também um filme sobre o poder, ou ainda, sobre o sexo
como poder (como ela já havia mostrado no anterior Anatomia do Inferno). Por
trás desse triângulo amoroso, há decerto o conservadorismo da sociedade
parisiense do século XIX. Mas além dessa dimensão do desejo e do amor
carnal, há uma outra no filme, que é a da fabulação. Boa parte do filme se
passa quando Ryno conta a avó de sua futura esposa as suas passadas
aventuras com Asia Argento. O tradicional flashback ganha aqui novo charme,
pois passa a ser uma espécie de cartão de visitas do futuro genro: a
estrategista sogra se delicia ouvindo essa vida cheia de intensidade e furor
dessa rapaz ainda que um tanto jovem, e acaba também seduzida tanto por sua
sinceridade quanto por seu sentimento de vida, sua ousadia em desafiar os
limites que lhe foram impostos. A relação entre esse estranho casal (lindo
casal) é feita de amor e ódio; ódio e amor: apesar de não se casarem, o
discurso do casamento (bíblico aliás - o Evangelho de São Mateus) parece que
se encaixa não nele mas na relação entre Ryno e sua amante - "os dois corpos
se tornam um só, e por isso eles não conseguem ser separados". Amor que se
revela necessidade e desespero; desamparo e instinto. O cinema de Breillat
observa tudo isso com uma calma inesperada em relação a seus filmes
anteriores, mas com sabedoria: com closes arrebatadores, com uma câmera
clássica e elegante, que não se movimenta muito nem cede aos caprichos do
cinema de autor contemporâneo, mas cuja paixão é apresentada pelo prazer do
olhar, do sexo e da fabulação (conforme já dissemos). Ainda que não seja um
filme de invenção típico de Breillat, Uma Velha Amante desenvolve temas da
filmografia da diretora com um requinte e uma elegância que abrem novas
perspectivas para seus futuros projetos mais pessoais.

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