Querô

Querô

De Carlos Cortez

Unibanco Arteplex

0 ½

 

Confesso que fico com uma certa preguiça para falar sobre o Querô. Adaptação da forte peça de Plínio Marcos, o filme optou pela realização de um filme de impacto (leia-se todos os tiques estéticos de Cidade de Deus para registrar o drama dos desfavorecidos). Esse esteticismo tira o filme do lado humano desse personagem, e o filme acaba caindo numa “espetacularização do terror” (destaque para a cena da fuga do internato). Ou seja, não restam dúvidas que a vida é difícil, o problema é como retratar essa aspereza do mundo. Pensamos em L´Argent de Bresson e ficamos tristes. Combinação-pastiche de Carandiru com Cidade de Deus, Querô no fundo no fundo acrescenta muito pouco ao que já sabemos sobre os meninos infratores e suas possibilidades de ter uma “vida digna”: o roteiro é construído com todos os pontos de virada e obstáculos que poderíamos imaginar (inclusive ele se apaixonar por uma menina bonitinha e ver que seu amor é impossível porque o passado condena, ou esse tipo de coisa). Quando o filme resolve deixar fora de quadro o que acontece, acerta, como no interessante recurso (um corte seco) quando se sugere que o menino foi estuprado na prisão (primeiro plano, o guarda fechando a cela da prisão, silêncio completo; plano dois, o menino na enfermaria conversando com o médico) que, de longe, é a melhor cena do filme. A entrega dos atores é visível mas a interpretação acaba não fugindo dos cacoetes de representação desse tipo de personagem, assim como todo o filme: Querô, por trás de um belo acabamento artesanal, é no fundo um filme de cacoetes, que mergulha no inferno de forma tremendamente calculada, e se olharmos com muita atenção, de forma conservadora e higiênica.

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