La promesse

A promessa

Dos Irmãos Dardenne

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O segundo filme dos Irmãos Dardenne, exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes 1996, visto de hoje, após a consagração dos irmãos belgas, já comprova que desde a origem os diretores tinham um cinema em mente. Mas ao mesmo tempo é possível ver que sua consagração foi apostar em um caminho de radicalização de uma forma de cinema presente neste primeiro filme, vinda com o posterior Rosetta. Ou seja, em A Promessa, os Dardennes ainda tinham um pouco da “forma Ken Loach de se fazer um cinema político”, cuja ruptura radical se dará com o Rosetta. Ou seja, em A promessa, ainda há “cinema social demais”. Ou ainda, enquanto em A Promessa o “social” ainda está em primeiro plano, em Rosetta ele está no mesmo plano (ou integrado) com “quem é essa menina” e com o cinema. Ao mesmo tempo, é possível ver diversos paralelos entre os dois filmes. São esses paralelos na verdade que trazem os maiores interesses para este filme.

 

Desde a origem, há o projeto do cinema dos Dardenne: a de que existe a possibilidade do amor e da redenção numa terra seca. E essa possibilidade quase sempre vem com o olhar para personagens jovens, que passam por uma espécie de rito de passagem transformador. Ou seja, os Dardenne são os maiores seguidores do cinema bressoniano (só agora percebo que Rosetta é uma espécie de refilmagem de Pickpocket – ah! que estranho caminho tive que percorrer para chegar até a ti…”). A maior lição de Bresson é que essa descoberta de uma possibilidade de vida deve ser marcada através de um cinema seco, duro para com esses personagens e também – é claro – para com o espectador. A maior diferença é que, em maior ou em menor grau, os Dardenne também estão interessados em fazer “cinema político no primeiro plano”, ou seja, de marcar as dificuldades sociais (especialmente de emprego e de desagregação da família) na Europa Ocidental contemporânea.

 

A promessa é sobre um menino aprendiz numa oficina que na verdade trabalha com um “suposto pai” provendo moradia e emprego para imigrantes,que vivem em condições extremamente precárias. Esse “suposto pai” é duro para com seu “filho”, e o menino tem a vida entre a oficina e o trabalho, com pouco tempo livre para si. Tudo muda quando, num acidente, um dos funcionários (um africano) acaba morrendo e ele pede ao menino que cuide de sua esposa e filha. Essa “promessa” será o início do caminhod e transformação moral do menino, já que ele terá que se opor ao “pai” para proteger com que a família africana consiga sobreviver com o mínimo de dignidade. Essa “fuga” ocupará a segunda metade do filme.

 

O cinema duro dos Dardenne está todo lá (sem música, com opressores sons ambientes, a precarização do trabalho, a necessidade de ser “duro” para “vencer na vida”, etc), mas aqui um tanto “amaciado” em relação à radicalização do posterior Rosetta. Ou seja, A Promessa é um primeiro filme, e nisso é notável a evolução dos Dardenne deste para o segundo: eles prosseguiram seu caminho utilizando-se do que funcionou e livrando-se das “bengalas” que não foram úteis. Ou seja, ainda que este seja o trabalho menos funcional do “estilo Dardenne”, passa a ser obrigatório para quem deseja entender mais sobre o caminho perseguido pelos realizadores.

 

Comentários

Bruna disse…
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