Lisandro Alonso

Eu gostaria de escrever um pouco mais sobre os filmes do Lisandro Alonso. Escrevi sobre Os Mortos, que é um filme que eu preciso rever e que me causou enorme impacto. Logo em seguida fui buscar os outros dois filmes do Alonso, Liberdade e Fantasma, e ambos me causaram boa impressão, apesar de ter achado Os Mortos sua obra-prima, mas os três filmes juntos mostram o desenvolvimento de uma filmografia coerente e extremamente antenada com o cinema contemporâneo.

É uma pena que eu tenha perdido um pouco o meu timing para falar desses três filmes como um conjunto. Hoje eu precisaria revê-los e debruçar-me um tanto mais sobre eles. Mas aqui fica essa menção: Lisandro Alonso, esse jovem argentino de menos de trinta anos, já entrou para minha antologia dos realizadores contemporâneos de destaque, e sem dúvida LOS MUERTOS está entre os melhores filmes deste novo século.

Liberdade é um filme de estréia. Registra as ações físicas de um homem que trabalha colhendo madeira numa região campestre da Argentina. Vive trabalhando e trabalha vivendo, quase como um semi-animal. Alonso trabalha suas ações físicas, com um cinema meramente descritivo, sem se preocupar em descrever seus sentimentos, suas motivações, etc. Ao mesmo tempo no meio do filme há um plano estranho por meio das árvores que antecipa o sinistro plano inicial de Os Mortos.

Fantasma fecha uma espécie de trilogia. É um filme urbano que se passa num lugar fechado, o teatro da San Martin, que tive a oportunidade de conhecer quando estive em Buenos Aires. Sem diálogos, descobrimos lá pela metade do filme que ele apresenta na verdade a primeira sessão de cinema que o personagem de Os Mortos frequenta, e que curiosamente é do seu próprio filme. O filme cobre os minutos antecedentes a essa sessão com grande estranheza, o que nos lembra de Goodbye Dragon Inn e coisas do tipo. A sessão está vazia, ou seja, o tipo de cinema que Alonso faz (com maestria) não muda nada e não tem impacto nenhum na vida das pessoas de Buenos Aires e de qualquer lugar, mas sentimos que alguma coisa mudou na vida daquele personagem. Fantasma é interessante porque joga a filmografia de Alonso para novas perspectivas, menos óbvias, mas ainda em formação.

Bom, vamos acompanhar de perto o quarto longa-metragem de Alonso. Apesar de menos conhecido que Trapero, Martel e Burman, Lisandro Alonso merece tanta atenção quanto os três. Nem precisa dizer: seus filmes são inéditos comercialmente no Brasil, e no Brasil só foram exibidos na Mostra de São Paulo.

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