4 meses, 3 semanas e 2 dias

4 meses, 3 semanas e 2 dias
de Cristian Mungiu
* ½

Nem “mundo cão” nem “obra-prima da nova cinematografia”: a Palma de Ouro em Cannes para 4 meses, 3 semanas e 2 dias comprova, mais que a coroação do status do novo cinema romeno a nível mundial, que o “descobrimento” dessa filmografia é uma invenção do Festival de Cannes. Com a exceção de A Morte do Senhor Lazarescu, esse sim uma quase-obra-prima, o cinema romeno tem trilhado caminhos irregulares, e nem mesmo uma semelhança estética/temática pode ser estabelecida. Filmes muito diferentes, como Como Festejei o Fim do Mundo, Califórnia Dreamin´, A Leste de Bucareste e Lazarescu formam uma filmografia com um forte pé na crua realidade romena após o fim do regime socialista, mas espelhando diferentes formas de abordagem da vida e do cinema.

4 meses, 3 semanas e 2 dias tem os dois pés grudados no realismo. Realismo de uma condição social e seus reflexos individuais. Mas até aí nada demais, é o já-visto, mas pelo menos sem demagogia. Uma amiga ajuda a outra a fazer um aborto clandestino. No entanto, o filme não chega a ter um tom de denúncia ou ser um mergulho em um submundo. O acerto de Mungiu é fazer um filme nada sensacionalista e bastante sóbrio sobre o tema. A opção pelo plano-sequência e pelos diálogos coloquiais reforçam a opção do diretor pelo realismo. Todo o filme se passa em um único dia, concentrando a energia da dramaturgia numa espécie de contagem regressiva que o título sugestivamente sugere. Mas por outro lado, não é um mergulho na linha de frente do cinema contemporâneo de linguagem.

Algumas coisas me incomodaram, como a postura das recepcionistas dos hotéis e a respiração ofegante da protagonista pelas ruas escuras, à espera de algo que (felizmente) não acontece. Seria mundo cão se acontecesse alguma coisa. Mas o tom ofegante reforça o desejo do diretor pela “psicologia alterada” e pelo “suspense não-realizado” e não pelo espaço físico e pelo percurso. É só comparar esses planos com os do skatista de Paranoid Park para se sentir a diferença.
Fica uma certa frustração ao final da sessão de 4 meses, 3 semanas e 2 dias em termos de toda a repercussão de um cinema romeno e em termos da conquista de uma Palma de Ouro. Mas acima de tudo isso, 4,3,2,1 (como eu o apelido) acrescenta muito pouco ao que o cinema (especialmente contemporâneo) tem feito em relação a abordagens de uma realidade social e como isso atinge a vida das “pessoas comuns”, que ainda acho que é o objetivo desse trabalho.

Comentários

Anônimo disse…
Adoraria ver esse filme!!!!

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