apresentação sobre o ÊXODO

Finalmente o ÊXODO teve a sua primeira exibição, na sala de vídeo do CCBB na Mostra do Filme Livre, da mesma forma como havia sido com o DESERTUM, dois anos atrás. Por isso, este blog esteve um pouco abandonado no último mês, já que o filme só ficou pronto na véspera de sua exibição. Fiquei bastante contente com o reusltado, que mostra um caminho de continuidade dos meus “filmes-diário” mas um avanço em algumas direções. Antes da exibição, fiz um pequeno discurso do que representa para mim fazer esse filme, que eu gostaria de transcrever aqui, ligeiramente adaptado, já que eu tenho a mania de repetir muito as palavras quando falo e com a omissão da citação das pessoas e agradecimentos, que acho que aqui não vêm muito ao caso. Ei-lo:

“ (...) A tecnologia digital hoje está possibilitando uma grande transformação na produção de obras audiovisuais. O ÊXODO é na verdade o terceiro longa experimental que eu venho fazendo numa certa linha. Os outros dois foram o EM CASA e o DESERTUM, e agora este é o terceiro filme que eu faço praticamente sozinho, ocupando todas as funções de realização. Claro que para isso eu tive a ajuda de pessoas que foram fundamentais (…) mas no fundo este foi um filme de longa-metragem feito praticamente sozinho. Acho que se é possível falarmos de uma assinatura no cinema, este filme tem uma assinatura, porque, enfim, roteiro, produção, direção, montagem, edição de som, tudo foi feito por uma única pessoa.

Uma reflexão breve que eu gostaria de fazer é que ao mesmo tempo em que este é o terceiro longa que eu faço numa certa linha, sem atores, um documentário totalmente experimental, e até como eu falo no prólogo do filme, este não é um filme para três milhões de espectadores. É um filme para quantos espectadores? 30? 100? 150? Esta é uma exibição que eu consigo fazer do filme, mas quantas outras exibições públicas eu vou poder fazer desse filme? Mais duas? Três? Com 50 pessoas em cada uma, daria 150 pessoas? Então o que representa fazer um filme como esse? Este é um filme que eu tenho muita consciência da sua invisibilidade, este é um filme invisível. Este filme é uma ilha dentro do cinema brasileiro de hoje, dentro do cinema mundial de hoje. Então por que fazer esse filme, o que representa fazer esse filme?

Então para mim fazer o ÊXODO é como descobrir uma ilha. Geralmente quando a gente viaja – e esse filme também fala sobre um processo de viagem – a gente busca os marcos principais da paisagem, busca conhecer os continentes, a Torre Eiffel, Paris, Veneza… mas o mundo é muito grande e pode ter diversas ilhas, que muitas vezes não são povoadas, ilhas completamente desconhecidas. Eu não sei se vale a pena, talvez provavelmente valha mais a pena conhecer os grandes marcos, as grande cidades. Mas talvez eu tenha um espírito de querer me aventurar por essas ilhotas.

O desejo de fazer o ÊXODO é o desejo de tentar percorrer essa ilhota não povoada, que está num lugar completamente distante e longínquo, um lugar invisível, um lugar que 50, 100 pessoas vão conhecer, dentro desse universo infindável de obras audiovisuais que são feitas diariamente, anualmente – e com o digital ainda mais. E eu só espero que essas poucas pessoas que tenham acesso a ele tenham o desejo de se aventurar por um lugar muito pouco conhecido e misterioso.

Este é um trabalho invisível mas eu fico pensando em uma série de outros trabalhos invisíveis que foram descobertos. Eu fico pensando na primeira exibição de um WALDEN, do Jonas Mekas, um diário de 3 horas e 40 minutos. Fico pensando nos primeiros curtas de um Gregory Markopoulos. Fico pensando no MEMÓRIAS DE UM ESTRANGULADOR DE LOIRAS, do Bressane, alguns filmes do Sganzerla feitos na Belair, filmes que foram praticamente invisíveis no seu tempo mas que depois foram descobertos, por uma crítica descompromissada, por pessoas que quiseram se aventurar por lugares não conhecidos.

Assim como o ÊXODO, esta Mostra
[a Mostra do Filme Livre) é um lugar especial de exibição de pequenas ilhas que a gente tem a possibilidade de descobrir. Só nesta Mostra tem um filme como um ERMO, do Salomão Santanna, ou um O SONHO SEGUE SUA BOCA, do Dellani Lima. São filmes que não vão ser exibidos nos festivais de cinema brasileiros, nas TVs privadas ou estatais, são filmes invisíveis, são ilhas que eu tive o prazer de descobrir aqui nesta Mostra, aqui neste espaço.

Bom, é basicamente isto o que eu espero do ÊXODO.”

Comentários

Anônimo disse…
fala ikeda,

a cópia já chegou aqui em fortaleza. vou escrever pra vc um texto e te mando por isso nao digo nada agora. de qualquer maneira mais uma vez vc me surpreendeu. vou tentar fazer uma sessao com os amigos

abs
ricardo

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