Duas breves observações sobre a TV

Sobre o caso Isabella, a primeira coisa que se pode dizer é a vergonha que tem sido a cobertura da televisão sobre o caso, faturando e se promovendo em cima da desgraça alheia, do sensacionalismo e das conclusões prematuras sobre o caso.

Acabei de realizar um vídeo sobre a minha visão do episódio, chamado ISABELLA. É quase todo uma leitura da carta do pai de Isabella quando preso no início da investigação, publicada na íntegra no jornal O Globo. É um trabalho de diálogo com outros vídeos meus (esp Diário de uma Prostituta e Carta de um Jovem Suicida), seja no tema da morte, seja na leitura da carta, seja na “apropriação ambígua” de material produzido por outrem. No entanto, fui aconselhado por amigos próximos a não exibir o trabalho em hipótese alguma, então desisti de colocá-lo no youtube, como era a minha vontade inicial.

A segunda coisa é que para mim o melhor programa de televisão é o Super Nanny. Sempre que possível, procuro assistir, e me surpreendo, pois apesar de ser um “documentário” instrutivo, ele nitidamente trabalha num misto entre elementos ficcionais e documentais. Há uma visão ambígua de educação, que em geral é vista como um processo autoritário, em que os pais devem reforçar para os filhos os conceitos de disciplina e hierarquia. “Sejam firmes!”, diz a SuperNanny aos pais. Mas apesar desses pesares, o que me encanta é que ao mesmo tempo há um olhar afetuoso da relação dos pais com os filhos. Na maioria das vezes, os pais passam a “descobrir os filhos” com a ajuda da SuperNanny, e isso é muito interessante. Tão preocupados com as tarefas do dia-a-dia, com as suas próprias questões pessoais e com o trabalho (i.e como arranjar dinheiro para pagar as contas no fim do mês), os pais não conseguem ver que com isso estão cada vez mais distantes dos filhos. E isso é a mais nobre dramaturgia que tenho visto na TV brasileira.

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