Un conte de Noël

Um Conto de Natal
de Arnauld Depleschin
Estação Botafogo 2 sab 21:15
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Terei que escrever rápido sobre Um Conto de Natal, do Depleschin, diretor que respeito muito por seu filme anterior, de que gosto muito, o Reis e Rainha, que abordei aqui. Esse Um Conto de Natal reforça as qualidades de Depleschin como um contador de histórias sobre a família, por não se render aos chamados “cacoetes autoriais do cinema contemporâneo”, e no seu estilo de “grande ansiedade”, em abordar um conjunto de situações, pessoas, frases e acontecimentos meio que atabalhoadamente, de uma única vez. Isso no caso de Depleschin é uma virtude e, apesar das mais de duas horas de duração desses dois filmes, fica uma sensação de que realmente muita coisa aconteceu e que ainda houve muita coisa que não foi dita pelo diretor sobre aquelas pessoas e situações. Nessa ânsia de falar é que entra o personagem do Mathieu Amalric, composto de forma brilhante por esse grande ator francês. Amalric é um louco meio filho da puta mas que a narrativa, mal ou bem gira em torno dele, ele é o personagem com o qual o diretor gostaria que o espectador se identificasse, ainda que notadamente ele faça atitudes nada elogiáveis. É nessa corda-bamba que se equilibra o cinema de Depleschin. Esteticamente, Depleschin compõe um cinema narrativo interessante, fragmentado, com uma vontade de linguagem bem particular, desde o começo com uma espécie de lanterna mágica, mesclando episódios, dias, etc., saltando entre os personagens, entre as situações com grande desenvoltura, indo da comédia ao drama, mesclando vários estilos, ritmos e abordagens. Ao mesmo tempo também não se pode deixar de dizer que ao final desse Um Conto de Natal fica uma certa sensação de diluição dos temas trabalhados em Reis e Rainha: o amor e ódio ao tema da família, o apreço a personagens desequilibrados, um pai (uma mãe) que odeia um filho, um matriarca que está prestes e morrer, conflito entre gerações, etc. Depleschin não aprofunda dramaticamente os temas colocados em Reis e Rainha: me pareceu que ele só os coloca de uma outra forma, mas sem acrescentar, ainda que não tenha perdido o seu interesse. O grande mosaico de personagens faz também que a narrativa inevitavelmente se dilua um pouco, e o drama desses personagens acabe não sendo aprofundado ou desenvolvido. A trama gira em torno de uma matriarca (Catherine Deneuve) que descobre que tem uma doença rara e precisa de um transplante de medula para não morrer. A família tem que descobrir um doador possível, e aproveita-se isso para reunir num Natal toda a família. Será a primeira vez que todos estarão reunidos após a separação de dois irmãos (Amalric e Anne Consigny) por causa de um processo e de uma dívida. Nesses dias de Natal, a família lava a roupa suja e tem diversos tipos de situações, em geral, de um lado com Amalric e sua namorada judia, de outro, a irmã (Consigny) com o marido e o filho que saiu do hospital. De outro lado, Chiara Mastronianni descobre que outro homem sem ser seu marido a amava, mas que “deixou” que ela se casasse com o outro. Amalric é o único dos filhos que pode ser doador: a mãe lamenta, porque nunca gostou dele, mas tem que aceitar essa ironia do destino. Enfim, todo o elenco está formidável, o que mostra que Depleschin é um belo diretor de atores. Em especial, além do talento incrível de Amalric, para mim se destaca o jovem Emile Berling, que faz o papel do adolescente recém-saído do hospital, que também se descobre doador. Um papel de contenção, desenvolvido de forma discreta, mas bastante contundente.

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