La frontière de l'aube

A Fronteira da Alvorada
De Philippe Garrel
Espaço Unibanco 1 seg 19hs
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O amor e o pára-brisas

Há uma hora em A Fronteira da Alvorada em que um dos personagens conta a sua filosofia da vida amorosa. Ele compara o amor a um pára-brisas: quando uma das palhetas vai para um lado, a outra palheta vai para o lado contrário, de modo que as duas nunca se encontram. Essa é a síntese do novo filme de Philippe Garrel, que é tão profundo e complexo quanto essa filosofia.

Não que A Fronteira da Alvorada seja um equívoco completo. É curioso como Garrel cria um tom particular ao filme, criado especialmente pela fotografia em preto-e-branco de Lubtchansky, mas não somente por ela: há uma doce melancolia que exala dos olhares em close de Louis Garrel e Laura Smet e da elegância da mise-en-scene.

Mas acontece que Garrel não é um cineasta iniciante. Ao contrário, de Garrel, sempre, se espera um trabalho de entrega, visceral, especialmente no tratamento do tempo, em que através de momentos aparentemente desarticulados, respiramos com os personagens.

A Fronteira da Alvorada não deixa de ser isso: é composto de pequenos momentos que nos encantam, só que desta vez soam breves, nos abandonam e vão embora; dissipam-se com o vento.

Mais uma vez, o tema é o amor; amor que contrói e destrói tudo. Estruturado em três tempos, divididos por cartelas: homem conhece mulher; homem se separa de mulher; homem tenta conhecer outra mulher. O amor é forte mas também é pura fragilidade: Garrel nos fala sobre a fragilidade da beleza. Como um filme de Dreyer, o homem é condenado por não conseguir amar plenamente, ou talvez por amar demais.

Acontece que Garrel entra num romantismo um tanto ingênuo, em que sua estrutura parece até mesmo esquemática demais, com diálogos e meios “pontos de virada” um tanto deslocados da sua elegância e sutileza características. Como no final, estranho mesmo à filmografia de Garrel, em que ele prefere a morte à possibilidade de reconstruir uma vida, como se fechasse de forma simplória sua “filosofia do pára-brisas”.

p.s.: é de se saudar a possibilidade de assistirmos no cinema a um novo trabalho de Garrel, ainda que em projeção digital, possível devido à boa repercussão da exibição de Amantes Constantes, seu filme anterior, distribuído pela mesma Imovision.

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