El Cant dels Ocells

O Canto dos Pássaros
de Albert Serra
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Fui para gostar mas convenhamos que Serra exagera na dose em O Canto dos Pássaros. Exagerar na dose não é nem problema pelo menos para mim: o problema principal é que a questão é mesmo a da provocação explícita, o que não é a minha praia. Mas há muitos méritos por trás do pas-de-scandale (oh!) pretendido pelo diretor: o lindo plano em que os três magos caminham ao largo até encontrar um punhado de luz que talvez seja o caminho, o outro em que finalmente ouvimos a música que intitula o filme. E, claro, uma concepção fotográfica, um sentido do preto-e-branco arrebatador, uma enorme solidão que rege o caminho desses três reis magos que parecem patetas bufões e uma enorme certeza na importância desse mesmo caminho. A dessacralização da história bíblica mas sem realismo descritivo, mantendo uma monumentalidade mas estranha, atípica, como se fosse um “franciscanismo estilizado” sem ser pré-rafaelita, um “barroquismo medieval”, ou uma mistura estranha de Caravaggio com Fra Angelico. Também um certo olhar de homenagem ao cinema de Straub, em como esses personagens se relacionam com esse espaço físico (Moisés e Aarão, por exemplo). Imagens que ficam para sempre na nossa cabeça, uma coragem imensa, um cinema instigante. Mas irregular, imaturo, que se deixa perder por bobagens no meio desse caminho, ao invés de se concentrar no essencial. Ainda assim enormemente válido, um sopro de vitalidade. Preciso ver Honor de Cavalleria.

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