Mongol

O Guerreiro Genghis Khan
de Sergei Bodrov
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Épico que recria a vida do grande guerreiro mongol Gengis Khan. Bodrov realiza uma grande co-produção internacional com grandes méritos em relação à artesania técnica: cenas de batalha, fotografia deslumbrante, etc. No entanto, sua intenção é fazer uma biografia bastante convencional, misturando um tom tipicamente épico com uma grande história de amor, com um tom completamente ocidentalizado, conforme fica claro pela indicação do filme ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ficamos pensando porque um filme como esse não está num Cinemark, e sim nos cinemas do Estação: provavelmente por não ser falado em inglês, por não ter um ator famoso e por envolver uma “história exótica” “como a dos mongóis”, não sendo assim “mero entretenimento” (haja aspas). Apenas por isso, pois na forma como Bodrov conta essa história, o filme é completamente convencional (talvez fora o fato de Khan ter aceitado um filho bastardo). Bodrov romantiza excessivamente a postura do sanguinário Genghis Khan, focando mais na história de amor do que no seu lado estrategista e até mesmo no lado histórico da formação da consciência do povo mongol. Outro problema do filme é que ele parece ter sido filmado para uma duração de 3 horas e depois os produtores resolveram cortar para 125 minutos para facilitar seu lançamento comercial: o filme possui diversas elipses muito abruptas, verdadeiros saltos que ficam sem explicação ou desenvolvimento adequado. Enfim, uma produção internacional competentemente realizada mas falsa, estereotipada. Mas o que salva o filme do mero “manual velho de biografias filmadas” é a estonteante atuação de Tadanobu Asano, grande ator japonês que já trabalhou com Kitano, Aoyama (especialmente) e Kiyoshi Kurosawa, entre outros. O ponto é que diante do grande desafio de encarnar uma personalidade nada trivial como Genghis Khan e diante da grande opulência de produção do filme, Asano genialmente optou pelo mais simples, e conseguiu dar o único sopro de vida, de verdade, nesse filme de ambições modestas (apesar de monumental). Asano revestiu o grande Khan com uma grande serenidade, fora de todos os cacoetes dos grandes líderes, e mesclando com cenas de grande ação física (as cenas de batalha) preencheu os tempos de pausa do filme com um enorme olhar humano, cheios de uma perseverança e de uma sabedoria (inclusive sobre o ofício do ator) que é de emocionar. O Khan representado por Asano é guerreiro e sábio, “astuto como lobo”, aquele que sabe ouvir e sabe falar, quando necessário. Asano sozinho consegue alimentar inesperadamente um filme de alma vazia, mas que ainda assim possui bons momentos (o trovão e "quem escolheu quem" por exemplo).

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