Feliz Natal

Feliz Natal
de Selton Mello
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O que me incomoda em Feliz Natal é a gratuidade de todos os elementos de cena. O filme se propõe a fazer um mergulho na decadência de uma família que se reúne no Natal, especialmente a partir de um dos filhos, que volta a essa casa após um tempo na prisão, após um acidente de carro. Feliz Natal se propõe a ter uma “narrativa moderna”, fragmentada e ao mesmo tempo com grandes planos-sequência, valorizado e muito pelo trabalho hábil de Lula Carvalho na câmera e fotografia, que dá ao filme um “olhar moderninho”. Mas a questão é que tudo em cena é muito precário, de modo que o filme oferece muito mais um “olhar confortável para a decadência”, “uma decadência de grife”, do que se preocupa de fato em mergulhar nesse submundo, e da fato entender as contradições e as dores dos seus personagens. O filme se preocupa muito mais em “fazer poses , cacoetes e trejeitos de um certo cinema moderninho” do que de fato entender seus personagens de forma humana. O exemplo máximo disso é como Selton Mello olha para a personagem de Darlene Glória, especialmente nas partes em que ele acha que ela é uma espécie de Gena Rowlands em A woman under the influence, e começa a filmá-la emulando certos recursos do cinema de Cassavetes, quando não compreende que o cinema de Cassavetes, essa câmera “à flor da pele” está a serviço de um olhar para o mundo e para os personagens totalmente avesso ao que Feliz Natal propõe, de forma que essa “referência” a Cassavetes se revela uma “desastrosa inferência”. Esse mergulho no submundo é todo muito superficial, muito mais baseados em tiques e trejeitos do que realmente se propõe a ter um olhar humano sobre tudo aquilo. Até aí tudo bem, pois é um primeiro filme (os primeiros planos no ferro velho impressionam pela beleza visual e pelo uso das enormes gruas). Mas o que mais impressiona é que uma certa crítica tenha valorizado o filme pela forma “corajosa e crua como olha um submundo”. Francamente!

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