(FestRio) Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos

Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos
de Paulo Halm

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Depois de tantos roteiros e tantos curtas e tantas aulas, finalmente Paulo Halm consegue realizar seu primeiro longa como diretor. Assistir a um primeiro longa é sempre uma tarefa asfixiante, pois é um primeiro passo, e ao mesmo tempo, temos a percepção de quantos passos anteriores foram necessários para esse primeiro passo. Em Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos Paulo Halm confirma sua vocação para ser um cronista de costumes carioca, buscando um cinema cada vez mais distante daqueles que se iniciam num primeiro longa: realizar um filme médio, um “filme como qualquer outro”, ou seja, cujo grande sonho é “simplesmente” a estreia comercial do filme, sem participar do Festival de Cannes ou se revelar o grande talento do cinema brasileiro da atualidade.

Ao mesmo tempo – e isso é o que me parece mais comovente no filme – Paulo Halm realiza um trabalho pessoal, em direta continuidade com o espírito de grande parte da sua obra de curta-metragem, especialmente em Bela e Galhofeira. Um cinema que examina os relacionamentos amorosos mas com um certo refinamento – sem cair nas grosserias e no apelo chulo do curta que o antecedeu na sessão do Festival do Rio, o lamentável Sildefanil. O refinamento do filme se refere à sua relação com uma certa metalinguagem: o personagem de Caio Blat é um escritor tentando terminar o seu primeiro livro, tendo um paralelo com a própria figura do diretor, que tenta terminar o seu primeiro filme. Mas Blat é tão envolvido pelos devaneios da vida que não consegue se concentrar para terminar de escrever. Pequeno Deus em seu mundo da criação, o escritor é na verdade guiado pelo destino, enfeitiçado pelas mulheres que, no fundo, são as donas da situação (como mostra explicitamente a cena-limite em que Blat finalmente transa com a argentina, uma cena curiosa, arriscada, estranha, estranhamente coerente). Indeciso entre duas grandes mulheres, o personagem de Caio Blat suspeita de sua felicidade, duvida da alegria e da beleza do mundo. Por trás da leve crônica de costumes tipicamente carioca, Paulo Halm não deixa de mostrar um senão, como aliás o próprio título do filme já denotava com clareza. Possivelmente o escritor terminará como um fantasma de seu pai, ressentido e solitário. Será? Fechando com o campo da ficção (o livro) ao invés da vida, Paulo Halm evidencia uma tristeza incomum, um certo corpo estranho ao final do filme, o que talvez só comprove o quanto Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos seja um filme essencialmente pessoal, um raro filme carioca que olha o seu modo de vida de maneira honesta.

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