(FestRio) Partir

Partir
de Catherine Corsini
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Há algo de doce no argumento de Partir, da diretora francesa Catherine Corsini: uma mulher rica, cansada da vida fútil com o marido, resolve largar tudo para viver com um pedreiro espanhol. Essa mudança radical nos lembra tanto um filme quanto Amantes, de James Gray, quanto mesmo de Gertrud, a obra definitiva de Carl Dreyer. No argumento, há uma tensão entre diferentes classes sociais e mesmo étnicas. O filme claramente aponta para uma crise, já que a confortável vida burguesa da protagonista não a satisfaz, e ela deixa tudo “pelo amor”. Mas, claro, o sistema, representado pelo marido da protagonista fará de tudo para restabelecer a ”ordem”, e em seguida, o filme irá desvelar seu verdadeiro objetivo: o de ser um thriller de perseguição, o de apontar para o preço pago pela protagonista, ou ainda, um filme sobre a opressão. Catherine Corsini não é Dreyer ou Gray: ela dirige tudo com mão dura, como uma “diretora alemã”. Nada pode ficar nos meios tons ou na penumbra: existe uma preocupação da diretora em desenvolver a narrativa de forma clara e fazer o espectador mergulhar nos instrumentos da opressão. Não existe uma sutileza, uma descoberta pelo feminino que não seja preenchido pelo desejo do filme de seguir um plot com blocos duros que tornam esse movimento da protagonista um mero joguete de representações sociais já dadas pela diretora. Dessa forma, todo o desenvolvimento de Partir é óbvio: é um filme que denunciando o totalitarismo, é absolutamente totalitário, como o seu final (desesperado, exagerado) comprova. Falando aparentemente de uma sutileza, Corsini realiza um filme descabidamente autoritário. Por fim, Kristin Scott Thomas tenta salvar o filme do desastre com uma atuação convincente, com uma postura de contenção, típica dos seus trabalhos, mas a limitação do material a impede de alcançar passos mais largos.

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