Revi ALMAS MACULADAS, do Douglas Sirk. O filme possui vários problemas, e demora uns bons 25 minutos para engrenar, mas não tem problema, pois Sirk conseguiu ser fiel a ele mesmo e ao material do Faulkner mesmo com todas as dificuldades “imagináveis”. Um pouco maniqueísta mas um belo filme. Sirk é um diretor de melodramas mas é incrível como ele filma de forma eficiente as cenas aéreas. Diria que elas são o grande momento do filme, por incrível que pareça. E não é fácil filmar essas cenas. Sirk tem uma coisa que me lembra o Manoel Carlos: ele olha para os seus personagens sem julgá-los, de modo que há sempre uma tensão ou um dilema verdadeiro no interior deles. E Sirk trata isso através da luz, do corte, da mise en scene, de maneira simples mas bem interessante. Como ele usa sofás, poltronas, galpões, escadas, etc, de forma criativa. O personagem principal de Almas Maculadas claramente é o jornalista, que tenta conseguir uma boa história, e convive com aquela “família” de desafortunados. É quase uma metalinguagem sobre como fazer cinema, “participando” da história ao invés de simplesmente “narrando”-a. Esse jornalista precisa ir ao fundo do poço para resgatar a verdadeira essência dessa história. E essa história fala de um herói de guerra que se torna uma atração circense, e está condenado porque não sabe expor seus sentimentos. O bravo aviador arrisca sua vida como espelho de sua fragilidade, de sua carência afetiva. Como uma espécie de vício demolidor, até o previsível ato final, filmado de forma linda por Sirk, quando o menino preso na roda gigante, passivo,vendo a morte do pai, somos na verdade todos nós, é o fim da ingenuidade da infância, o fim das esperanças. Fico pensando que só um nórdico poderia filmar uma coisa dessas, pois o filme mostra uma certa frieza, uma dificuldade de mostrar os sentimentos, uma elegância fria ao exibir um decadentismo. Fiquei pensando que de uma forma muito indireta Almas Maculadas não é muito diferente de um Gertrud, a grande obra prima do também nórdico Carl Dreyer. Esse pobre aviador – cujo corpo sequer pôde ser encontrado, pois afundou na lama do fundo do lago – talvez seja condenado por não conseguir expressar o seu amor, diante das circunstâncias do destino.

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