sublimação zen

Uma coincidência fez com que, nesta madrugada, eu revisse alguns de meus antigos posts nesse blog. Posts de cinco anos atrás, que hoje me soam quase juvenis, mas, ainda assim, possuem esta mesma verdade que ando perseguindo sistematicamente, insistentemente. E daí que a pergunta ressoa para mim: o que é escrever um texto sobre um filme, o que significa isso? E, novamente, como sempre, só consigo responder que só faz sentido escrever um texto sobre um filme (ou sobre alguma coisa) se aquilo o toca, e se você diz porque aquilo o toca, tentando desenvolver uma forma de diálogo com o que aquele sentimento despertou em você, na sua vida. Por isso quando estou escrevendo sobre filmes eu na verdade estou escrevendo sobre mim, ou ainda, estou escrevendo o roteiro dos meus próximos filmes, ainda que eles não necessariamente tenham um roteiro. Mas o que é importante (ético) é que eu procuro evitar ao máximo que esses textos sejam meros joguetes para falar de mim, como se eu usasse os filmes para falar de outra coisa que me interessa (uma vaidade, um egocentrismo, um autoelogio). Não é esse o caso. Os filmes não são subterfúgio de mim, mas única solução coerente, porque só é possível falar de mim, falando dos filmes. Não são fuga de mim, mas encontro de mim. Não são propriamente meios para falar de mim, mas são fins em si, pois falando dos filmes falo mais profundamente sobre mim do que se estivesse falando estritamente de mim mesmo. E assim posso estimular uma relação com o leitor que seja igual, “olho no olho”, e não “de cima para baixo”, e não professoral, didática, mas orgânica, viva, dinâmica, honesta. Ou ainda, imperfeita, parcial, suscetível. Por isso cada vez mais me incomoda um conjunto de textos sobre o cinema, porque não se procura estabelecer um diálogo honesto e verdadeiro com os filmes, mas apenas jogos de poder para consolidar um certo “cânone crítico”, mas não quero mais ficar falando porque os textos não são como eu acho que deveriam ser, porque o mundo não é como nós gostaríamos que fosse, ele é como é, da mesma forma que as pessoas não são como gostaríamos que elas fossem, elas são como são, e porque da mesma forma nós não somos como nós gostaríamos de ser mas nós somos como somos. O que quero fazer – preciso fazer, e sinto cada vez mais que quero fazer – é apenas exaltar essa possibilidade aqui, essa possibilidade “desinteresseira”, essa forma de olhar para os filmes através de palavras, palavras, palavras. Falar de mim, mas não através de confissões inúteis como as que fiz na ocasião da exibição do meu curta O POSTO, expondo minha mágoa contra um estado de coisas, mas pensando mais além dessas aparências rotineiras (imediatas) o sentido de compor um DIÁRIO, o sentido de uma CONFISSÃO, o sentido de um DESNUDAMENTO. Estou fazendo isso quando escrevo sobre O SACO AZUL, ou sobre GLIMPSES do Jonas Mekas, ou sobre o último curta do Caetano Gotardo, muito mais do que meu desabafo ingênuo sobre os festivais. Ainda que esse desabafo seja necessário, é preciso fazê-lo de uma outra forma, uma espécie de “sublimação zen”: falando de filmes em que acredito, ou fazendo filmes em que acredito.

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