Lembro que há um tempo atrás Murilo Hauser apresentou seu curta Outubro no Festival de Tiradentes dizendo que as pessoas se matavam em Curitiba talvez porque seja uma cidade muito fria. Seu curta começava com um plano muito impressionante em que uma menina se matava, e a câmera atravessava uma janela aberta. Dois curtas mais tarde, os mesmos temas do suicídio e da janela voltam a cruzar o caminho de Murilo. Meu Medo, curta de animação, é um falso filme infantil, sobre uma criança que vê fantasmas quando deixada sozinha em casa. Ou seja, não é um filme para crianças, é um filme sobre crianças. Ou ainda, sobre nós. Hoje, Murilo, entre peças de teatro e outros trabalhos mais, pouco fica em Curitiba, mas parece que a cidade ainda habita nele. Por isso mesmo, é muito bonito o final de Meu Medo, quando a criança abre a janela de sua casa. Há uma ambiguidade nesse final. De um lado, pensamos que abrindo a janela, a criança está na iminência de cometer suicídio. De outro, pela janela há uma luz e uma brisa, que invadem o claustrofóbico ambiente. Mas acontece que, como Murilo dizia desde o início, a cidade é fria, e pela janela, mais do que o sol, talvez entre somente o frio. Será que a criança estava mais segura ali, naquele mundo asfixiante, do que diante da cidade fria? Devemos nos fechar diante do mundo? Qual é a saída? Não sabemos bem, o filme acaba. A beleza e a sobriedade dessa opção ambígua é que tornam o final de Meu Medo tão pessoal e tão emocionante, dados os filmes anteriores do diretor.

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