Quando escrevo sobre underworld estou escrevendo sobre MIM HOJE, quando escrevo sobre o novo filme do woody allen estou escrevendo sobre o cinema de fortaleza em 2011. Isso não é egocentrismo ou desvio do gênero: é uma opção em fazer um diário através das coisas que me cercam. Como é possível fazer uma crítica de um filme do sternberg de 1927 num blog tendo-o visto uma única vez? É possível, pois esse filme me soa atual, ele me move hoje, em questões que me são urgentes, ele me faz despertar para questões da vida do hoje. Essa é a atualidade de uma obra de arte, a possibilidade que sua fruição nos faça despertar para as questões do hoje. Isso não é negar a história. Nem dizer que uma obra de arte é “auto-ajuda” ou que tudo se meça pela eficácia da atualidade. Mas é perceber que um filme do Ozu nos fala do que eu estou sentindo hoje: isso é também pensar cinema, é perceber a fluidez de sua recepção para além dos códigos formais da obra em si. Pois tudo muda, tudo passa. As coisas nos atravessam. É preciso observar esse atravessamento do ontem no hoje, do outro em nós mesmos. A crítica (se o termo é mesmo esse...) é esse exercício de transposição: uma transposição limitada mas honesta. Quando falo de um filme, falo também de mim hoje, de um certo cinema brasileiro hoje, das minhas relações com um certo cinema de Fortaleza hoje. Assumo-me assim: este blog como um diário. Quem o acompanha, vê um percurso falho, mas um percurso humano. Eu me coloco com as minhas instabilidades e fragilidades, mas me coloco de uma maneira que busca um diálogo possível, precário mas humanamente possível. Assumo-me assim: este é um valor desses escritos.

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