O Espelho, de Jafar Panahi e Persona, de Ingmar Bergman

O Espelho, de Jafar Panahi, parece um típico filme neorrealista. Uma menina iraniana tenta encontrar o caminho de casa sozinha, depois que a mãe não vai buscá-la na escola. Mas de repente acontece algo. A menina olha para a câmera e desiste de filmar. Zangada, ela decide ir para casa, e então tenta voltar para casa sozinha, exatamente como sua personagem, contra a qual ela se revolta.

Ora, por que a menina desiste de filmar?

Me parece que pelos mesmos motivos que levaram a atriz de Persona, no meio de uma peça, a desistir de encenar e permanecer muda. Ela tenta se isolar do mundo, mas percebe que acaba vivendo os mesmos dilemas de sua personagem na peça.

Tentando se libertar das armadilhas do mundo da criação, essas duas personagens – uma tentando encontrar o mundo, outra tentando fugir dele – acabam se tornando as próprias personagens de si mesmas.

Elas não conseguem fugir de si mesmas: o filme é “espelho” do mundo; a personagem vira “persona”. Não é mais possível dizer quem cria o quê, quem tem controle do quê.

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