Gostaria de poder escrever algo sobre ME AND MY BROTHER, única das obras do Robert Frank que consegui ver na extraordinária mostra na Caixa Cultural, meio que prejudicada pela greve bancária. Este filme em particular me interessa por dois motivos. O primeiro é que o filme é uma espécie de ensaio poético, que dialoga com o diário e especialmente a autobiografia. Ou ainda, a relação entre a intimidade e a família, através de um cinema de arrojo formal, não narrativo. O segundo é que o diretor revisita um material filmado há mais de vinte anos.

Esse segundo ponto talvez possa revelar muito sobre a matéria do filme. Um olhar jovem mas maduro sobre seu tempo, um olhar íntimo mas distanciado sobre uma pessoa próxima. De um lado, para falar do catatônico Julius Orlovsky e de sua relação com seu irmão Peter, Robert Frank alterna razão e imaginação, registro e ficção, inserindo camadas e mudanças bruscas na tessitura do filme.

Julius não se comunica. Permanece mudo, não responde. O filme é praticamente todo sobre ele. No entanto, não há vitimização, discurso sociopolítico ou coisa do tipo. O que há é um irmão tentando viver a vida ao lado de seu irmão. E um amigo próximo que é cineasta, que acompanha esses dois amigos enquanto ele próprio segue a sua própria vida.

É muito mais nessa relação direta entre arte e vida que “me and my brother” nos acrescenta do que propriamente na relação entre artifício e real. Em como a delicadeza se expressa não por “imagens delicadas” mas por uma forma justa de encenar, sem comiseração nem “patetização”. Ou seja, décadas-luz tanto do inacreditável filme do Mocarzel (o lamentável Do luto à luta) ou mesmo do delicado mas convencional “O nome dela é Sabine”, da Sandrine Bonnaire.

O final do filme, quando Julius finalmente se expressa para a câmera, é um dos mais precisos, belos e comoventes diálogos entre uma câmera e um homem, entre um irmão e outro, entre a arte e a vida. Uma conclusão justa para um filme pouco preocupado com conclusões.

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