Finalizar um filme caseiro, precário como ENTRE MIM E ELES é sempre um desafio, um desafio bom. Esse, que talvez seja entre os filmes que fiz o mais difícil, o que me trouxe mais dificuldades – a ponto de eu estar há um ano e meio tentando finalizá-lo. A questão é que as imagens estão aí, elas são as mesmas, mas as coisas mudaram, o mundo mudou, eu mudei, as circunstâncias são outras. Nos meus filmes anteriores, eu falava de mim, então estava pronto para segurar a onda, seja ela qual fosse. Agora, é algo mais amplo: falo também, inevitavelmente, de uma cena. Falo dos outros, e tenho a consciência da minha responsabilidade nisso. Ao mesmo tempo, preciso prosseguir o meu caminho, esse caminho solitário e suicida, na crítica, na realização, no mundo. Preciso olhar para as coisas com os meus próprios olhos. E o meu olho sempre foi um coração. Faço meus filmes cerebrais de forma intuitiva. São simples, apresentam uma forma de estar no mundo. Projeto nos filmes uma dor de ver as coisas de uma certa forma e ao mesmo tempo um desejo de um mundo em que a contemplação possa ser possível. Meus filmes se repetem, pois preciso repetir, repetir, repetir, para seguir adiante. O desafio é seguir sendo sempre o mesmo (ou melhor, sendo eu mesmo, ainda que esse eu mude) mas sem se repetir. E só é possível fazer isso repetindo. ENTRE MIM E ELES apresenta diversos dos recursos de meus trabalhos anteriores, mas sob uma perspectiva ligeiramente diferente. Quem se der ao trabalho de comparar esse meu novo filme com os anteriores vai identificar de modo mais ou menos preciso essas relações, mas ao mesmo tempo ficará claro que não repito apenas por preguiça, por comodismo ou por “crise criativa”. Mas repito como um meio para avançar, para jogar as questões que venho desenvolvendo para a frente. Retomo as mesmas questões de sempre, mas com um ligeiro deslocamento. E chegando perto de concluí-lo, percebo que avanço fazendo um filme que, honestamente, não faço a menor ideia se poderá ser visto. É uma garrafa lançada no mar.

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