Lamento que parte considerável da crítica e dos realizadores (e dos curadores) ainda permaneça deslumbrada com o tapete vermelho, com o champanhe e com as fotos com flashes. A mesma crítica que eventualmente escreve sobre filmes como os primeiros do Garrel, os de Jonas Mekas, os da Belair, e tantos outros filmes extraordinários que à sua época eram filmes desconhecidos porque não estavam sob os “holofotes do seu tempo” não consegue perceber que muitos dos filmes (brasileiros especialmente, mas não só eles) que hoje pulsam não despontam dos “grandes festivais do momento” mas estão alojados em cantos subterrâneos, fora dos holofotes. No momento em que “a produção alternativa” brasileira ganha alguma visibilidade (ainda que relativa, que naturalmente pequena, um “reconhecimento de nicho”), é preciso que os críticos, curadores e realizadores – mas especialmente a verdadeira crítica, aquela que tem aquele papel indelicado de sempre se questionar, de cutucar o rumo das coisas – tenham a percepção de que algo ainda mais potente PODE estar escondido, adormecido, sem que se dê conta. Alguns filmes maravilhosos estão conseguindo chegar aos grandes festivais e alguns realizadores notáveis estão conseguindo ter mais visibilidade – e isso é muito bacana. Mas não se pode ficar apenas nisso – senão será um mero sinal de miopia. Sinto que permanecemos sob o nevoeiro.

Tenho o pressentimento – talvez seja um mero (pre)ssentimento / (p)ressentimento – de que uma GERAÇÃO – de realizadores, de críticos, de curadores e de gestores públicos – estamos desperdiçando uma ENORME oportunidade. As coisas indiscutivelmente estão passando por uma significativa TRANSFORMAÇÃO, mas o amanhã “poderia ser MUITO MAIOR”.

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