ALGUMAS OBSERVAÇÕES INICIAIS SOBRE COMO VEJO O RIO DE JANEIRO HOJE (UMA PANELA DE PRESSÃO)



ALGUMAS OBSERVAÇÕES INICIAIS SOBRE COMO VEJO O RIO DE JANEIRO HOJE (UMA PANELA DE PRESSÃO)

O Rio de Janeiro hoje é uma verdadeira panela de pressão. Tendo morado mais de trinta anos no Rio, e hoje residindo em outro estado, quando volto ao Rio, percebo, numa simples caminhada pelo Centro da Cidade, como tudo está cada vez mais sufocado. Na semana passada, fui com um amigo num domingo à tarde no Arpoador, a praia estava absordamente lotada, e era evidente um certo clima de tensão, em torno de uma "convivência partilhada". Essa ideia já conhecida - de que vivemos numa "cidade partida" - atingiu um ponto limite. É preciso perceber as dinâmicas desse processo, que envolve um projeto político e econômico, num modelo de desenvolvimento que não é inclusivo. Com a pacificação das comunidades, com o aumento da renda da "nova Classe C" a um novo padrão de consumo, é inevitável que as áreas nobres do Rio também passem a ser ocupadas não exclusivamente por quem reside nesses lugares. De outro lado, nesse modelo de desenvolvimento internacional, nesse movimento de tornar o Rio uma "cidade global", os turistas invadem a cidade, pessoas de todas as regiões do mundo. Quem mora em Ipanema/Leblon há trinta anos, de repente vê o seu "quintal" invadido por uma multidão de pessoas completamente heterogênea, e é natural que isso reforce nelas um sentimento conversador de querer resgatar, de forma saudosista, a "cidade intocada" de trinta anos atrás. Antes de uma análise que jogue num ringue "manifestantes manipulados" contra "ricaços alienados reacionários", é preciso - trabalho de sociólogo - alguém que ponha um pouco mais de luz no que anda acontecendo no Rio. A periferia, os estrangeiros e os locais são algumas das "tribos" que disputam a ocupação desse espaço - e nada melhor do que a praia para evidenciar essas tensões, que sempre estiveram sob a superfície, e agora explodem, dada a velocidade dessas transformações na cidade, impulsionadas por uma política municipal, estadual e federal (em maior ou menor grau). O Rio é "a bola da vez", lugar privilegiado de embate dessas questões sobre a cidade "que queremos" e a cidade "que podemos" (sic). Antes de jogar uns contra os outros, é preciso respeitar os lados e entender as origens de suas motivações e os impactos dessas ações. A periferia agora também quer participar da cidade; os moradores locais querem resistir à invasão dos seus quintais. Há um modelo de política pública que empurra a cidade para um modelo de desenvolvimento internacionalizante. E esse movimento é incontornável e inevitável. O Rio de Janeiro, queiramos ou não, vai se transformar numa cidade diferente do que é ou era há dez ou vinte anos. A Copa e as Olimpíadas só serviram como motor de aceleração desse processo. Que cidade é essa? Quais são os acordos, negociações ou tensões que vão permear esse processo? É isso o que está em jogo nesse momento.

http://www.youtube.com/watch?v=k8iy3eehwa8&hd=1

Esse vídeo ilustra bastante bem essas tensões na cidade. Um manifestante fantasiado de Batman em frente ao Shopping Leblon discute com um cineasta morador do Leblon sobre a validade desse gesto. A tragédia da situação - na minha visão - é que ambos estão ao mesmo tempo corretos e completamente equivocados. A inabilidade política de consuzir esse processo de tansformações do ponto de vista social vem quebrando a imagem do carioca de hospitaleiro e pacífico. O Rio de Janeiro hoje - desde as manifestações - é uma verdadeira panela de pressão. Elia Suleiman poderia vir filmar no Rio de Janeiro.

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