MIA MADRE

MINHA MÃE
de Nanni Moretti




Me espanta saber que MIA MADRE foi considerado pela Cahiers de Cinema o melhor filme de 2015. Gostaria de saber os motivos, já que a mim me pareceu um filme muito do requentado sobre as relações da família e do cinema. MIA MADRE me parece muito próximo de O QUARTO DO FILHO, especialmente numa busca em combinar comédia e drama, tornando para o espectador um sentimento de drama de luto extremo, com a perda de um parente muito próximo, mais palatável, entrecruzando com momentos de comédia, quase como uma crônica de como "a vida é assim mesmo", "feita de perdas-e-ganhos", e que no final precisa ser vista dessa forma leve, "vamos viver enquanto é possível", e todas as coisas confortáveis do tipo. MIA MADRE entrecruza cenas em que uma mulher visita a mãe (desenganada) no hospital com cenas de seu trabalho como cineasta, em que ela precisa dirigir um filme, lidar com uma equipe, especialmente com um ator bobão que mal decora as falas. Essa mulher aprende a ser "mais humana" quando se depara com a perda da mãe: percebe que tem sido egoísta, e que precisa olhar mais de perto para sua família (filha e irmão) e se dedicar menos ao trabalho (seus filmes), etc, etc. Acontece que essas relações são apresentadas por meio de um humanismo frouxo que explica tudo pelos diálogos e redime todas as ações dos personagens pelo perdão, resultando num catolicismo acadêmico que busca confortar (ou entreter) o espectador, ao invés de fazê-lo refletir sobre o que quer que seja. Num momento do filme, a diretora diz que "o ator precisa sempre estar ao lado do personagem", uma frase tipicamente do teatro brechtiano, que propunha a não identificação entre ator e personagem, ou entre personagem e público, como avesso da catarse, essa inimiga da reflexão. Parece que Moretti faz o oposto, pois se busca evitar que o filme caia num melodrama cerimonioso, contemplativo e condenatório (como um AMOR), cai numa outra armadilha: a da superficialidade reacionária. O esquematismo e o "feel good" de MIA MADRE revelam seu humanismo de folhetim. Um filme sobre uma cineasta que não quer filmar, filmado sem nenhum plano que respira alguma beleza de mise en scene. Um filme sobre uma mulher que descobre que o mundo vai além de seus filmes, filmado sem nenhum plano em que o diretor se abre para o mundo ou para a paisagem. Um filme típico do "mercado do cinema de arte europeu" que a Cahiers resolveu eleger como o melhor de 2015....

Comentários

Elvio Franklin disse…
Acabei de ver o filme aqui e achei bem ruim mesmo. Fui ver uma lista de melhores da Cahiers e vi que eles tem uma paixonite antiga já pelo Nanni Moretti, muitos filmes dele foram eleitos melhores do ano.

Postagens mais visitadas